Tasso da Silveira em 1972 – ao organizar e criticar poemas do autor na coleção Nossos Clássicos da Agir Editora – elegeu o presente poema como “talvez o mais belo do idioma”.
SORRISO INTERIOR
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto Do grande amor, da nobre fé tranquila
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo…
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
O ser que é ser transforma tudo em flores…
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
Este site pertence ao compositor e escritor Lopes al’Cançado Rocha, o Cristiano. Disponibiliza gratuitamente aos internautas experiências de conhecimento e conteúdo para pesquisa. Clique no link a seguir para saber dos serviços que o autor oferece: https://pingodeouvido.com/cristiano-escritor-e-redator/
A fala e a cala constituem o diálogo – ou o monólogo –, a prosa, porque são impressivos, arrítmicos e horizontais. São mais da razão e da externalidade comunicativa. A fala, imagética na memória, é exposição, explicação; a cala, por sua vez, é compreensão na escuta e incompreensão na surdez.
O diálogo (ou monólogo) e a prosa são menos etéreos do que o chôro, do que o gemido e o riso, e são mais visuais e plásticos; mais humanos, são a civilização. Só o homem – esse animal que ocupa o primeiro lugar na escala zoológica – consegue contar histórias. Enquanto que o restante da natureza só pode rir, chorar e cantar.
A prosa se manifesta após o nascimento, durante a vigília e mediante a imaginação. A fala e a cala, civilizatórios que são, compõem os dramas e as tragédias.
Quando vai se formando o ser humano, no ventre materno, é que se dá o primeiro contato sensitivo com as formas de sentimentos expressivos e impressivos e, por conseguinte, com a arte – isto é, com as expressões situadas no tempo, no espaço e na memória.
O chôro e o riso são as primeiras expressões organizadas sentidas pelo feto. São como se fossem poesia e música, porque têm ritmo e são mais expressivos, verticais. E ambos são mais do coração: o chôro é lamento e o riso é júbilo, ensaios para o clamor e louvor.
A poesia e a música, mais sonoras, mais íntimas e emotivas, inclinam-se para o sono e para o sonho durante a gestação. O lamento e o júbilo são líricos, da natureza. Os pássaros cantam, as águas riem, os animais irracionais choram. Choram os cavacos, choram as cuícas, riem-se as violas.
Portanto, o ser humano no período de sua gestação só poderá ter contato com apenas uma forma de arte, que é sonora, emotiva, íntima, lírica, sonhadora e rítmica. Ela germina do chôro e do riso, evoluindo para os cânticos de ninar ouvidos pela criança recém-nascida. Das cantigas de ninar abrem-se as portas para a arte segunda, que é a dança, cujo contato se inicia nos gestos de embalo dos pais quando tomam seus filhos no colo.
Inspirado em diversos textos e obras, sobretudo em “A Origem Da Linguagem”, de Eugen Rosenstock–Huessy.
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Quando chegamos ao ano de 2000, eu colecionava poemas curtos motivados pelas aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, bem como pela leitura de nossos poetas modernistas. Apanhei um acerto de contas dum emprego e resolvi publicar parte dos escritos no ano seguinte. Em termos de suporte (formato) escolhi o livro com cd, pois aproveitei para distribuir doze faixas de canções gravadas com voz e violão. Era novidade oferecer ao público conteúdos em livro e compact disc audio.
Em brochura grampeada, com sobras de papel da gráfica, de corte torto, capa feia e improvisada, saiu uma edição tôsca e pobre, não só pelo fato de ser independente e autofinanciada, mas também por incompetência de todos nós, autor-editor, diagramador, gráfica impressora etc.
A intenção era demonstrar a importância com que sempre tratei a Literatura e expor um estilo individual eclético, no intuito de agradar o maior número possível de leitores e ouvintes. Os poemas foram divididos em quatro partes: a) memória pessoal; b) temas políticos e socioeconômicos; c) experiências com namoros e d) metalinguística. Quanto às canções, selecionei as que eu julgava serem as melhores na época.
Quis modéstia no título e pus “Poemas e Canções”, pois admitia minha imaturidade pessoal e artística. Agora nessa segunda distribuição há um novo intuito: retomar esse marco de minha trajetória.
Obra de jovem estreante, percebe-se marcante cadência típica do letrista, rimas imperfeitas, versos livres a procura de certa harmonia assimétrica; um tom de fala ao mesmo tempo memorialístico e confessional. Artes e pecados da infância, paixões juvenis com influência de Adelino Moreira, o espaço semi-urbano, os sonhos e as aflições próprias dos que trabalham em reflexão e contemplação em meio as urgências da vida, das tragédias humanas e sociais. Veremos esses últimos cenários, por exemplo, em “psicológico” (página 10), “temorte (na sua área) ” e “Nos sinais” (página 18).
Nas duas últimas canções (Cata-vento e Neandertlhal) teremos canto à liberdade e um lamentoso apelo. É que antes de nos apresentarmos como escritores, antes mesmo de declararmos a primeira estrofe, àquela época já percebíamos o desprezo e a indiferença para com os novatos. No geral, quando se falava em arte, só se pensava em reconhecimento, exposição, fama, carreira profissional e vida pública luxuosa. Esquecia-se dos artistas como exemplos à sociedade, como cidadãos influentes na ética e moral de um povo. Hoje, porém, sabemos que a fria educação pela pedra de um João Cabral de Mello Neto norteou o senso de um Ministro da Fazenda Antônio Palocci; e que aquele Glauber Rocha animou o coração e a mente dum poeta e Presidente da República José Sarney. Um simples estribilho pode, na sua devida proporção, influir na história de várias gerações.
Hoje o desprezo, a indiferença e o ato de recusar contribuições literárias e artísticas em geral são efeitos de várias causas, e dentre elas podemos citar o declínio do ensino e aprendizado, o desamor pelo idioma, a imposição do entretenimento e do lazer prazeroso, a anulação da atividade crítica e a intensificação das degradantes guerrilhas culturais e espirituais. Vejo as forças criativas perderem sua fecundidade e segregarem-se em ilhas tribais fervidas por conspirações, estratégias, táticas, agendas e atitudes que, às vezes, culminam em histerias coletivistas ou até em campanhas de reivindicações hostis e ódio. Essas vias obscuras em muito nos entristecem.
Os critérios norteadores do fazer literário deixaram de ser a beleza, o amadurecimento da escrita, a riqueza de conteúdo, a força das expressões, a hombridade ética e estética do autor. Vieses ideológicos, de crenças ou descrenças são fatores determinantes para fazer repercutir ou não a voz dum pobre sujeito. Serão forças suficientes para calar algum filho de Deus capaz apenas de honrar seus próprios ombros? Só Ele pode nos responder, e a resposta virá certamente no Tempo Dele.
A presente reedição, com prefácio e informações complementares confirma minha escolha desde o início: o caminho da arte livre, consciente, independente, sóbria, responsável, baseada na razão, no sentimento e na compaixão. Esse pequeno percurso me impulsiona e me alimenta na missão de alcançar o máximo de pessoas dispostas a apreciarem Língua Portuguesa do Brasil, Literatura Brasileira, poesia inspirada e letra de música.
Belo Horizonte, 07 de julho de 2017.
Sobre o autor
Filho de José Maria Rocha, bombeiro hidráulico e Dulce Francisca Lopes Cançado, do lar, nasci em 07 de julho de 1977 em Belo Horizonte. Meus pais, nessa época, moravam no bairro de Santa Efigênia. Em dezembro de 1981, movidos pelo sonho da casa própria, mudamos para o Conjunto Habitacional de Interesse Social (Cohab-MG), mais conhecido como Conj. Cristina, próximo ao bairro São Benedito, na cidade de Santa Luzia.
Estudei o primário na E.E Jacinta Enéas Orzil, onde iniciei meus primeiros escritos, estimulado pelas aulas de comunicação e por canções que ouvia na voz de minha mãe. As demais séries do primeiro e segundo graus cursei na E. E Raul Teixeira da Costa Sobrinho já compondo uma variedade de letras, poemas e demonstrando notório interesse por nossa Literatura Brasileira. Dentre as funções que exerci estão: vendedor ambulante, balconista, empacotador de compras em supermercado, repositor, office-boy, auxiliar de escritório e leiturista em relógios medidores de energia elétrica.
A partir de 2002 trabalhei como balconista novamente, auxiliar de tesouraria, carteiro, professor de violão, músico de bar, auxiliar de serviços gerais. Colaborei voluntariamente em duas associações culturais luzienses. Idealizei e concretizei dois periódicos literários: Cabeça de Papel (2002) e Pingo de Ouvido (2015). Em 2006 integrei o curso de crisma do método da Catequese Narrativa, na comunidade Santo Inácio entre os cristinenses; crismei, batizei e, sendo já cristão, firmei publicamente minha Fé Católica. Estudei um período de administração em 2007. Dediquei-me em dois cursos técnicos e vários outros profissionalizantes no período de 2009 a 2014. Apresentei-me em alguns festivais de música, mostras e recitais. Publiquei dois álbuns musicais nas plataformas Onerpm e Youtube. Até meados da década de 2000 almejava profissionalizar-me inteiramente nas atividades artísticas, até que em 2005 decidi por me tornar, antes de qualquer desejo profissionalizante, um artista de testemunho e obra. Trabalho, atualmente, como assistente administrativo e estudo várias disciplinas de forma autônoma. Conquistei amores e desafetos, como é natural com todo ser humano. Ganhei um filho amoroso. Nos últimos anos venho me reaproximando das origens familiares, curtindo tias-avós, tios, primos, primas, padrinho, madrinha. Ouvindo deliciosas histórias como nunca. Ganhei também duas afilhadas, quatro cachorrinhas lindas e a família só lá vai crescendo…
Hoje, sob as mais variadas influências, tanto da arte como das diversas convivências… “ao contrário dos que escrevem e rasgam, mando meu timbre não por vaidade; é para desafiar esse instrumento de infinitas faces, comprometedor e bambo que é a palavra. Contudo, lembro que não deixo apenas palavras, lanço também a minha unidade e um pedacinho do meu universo. Quando me ponho a liberar o que me borbulha aqui dentro, a letra e o som são os códigos de que disponho… um violão de estudo e u’a máquina de escrever, isso é tudo, tudo que eu tenho. Dependendo do estado em que me encontro, eles se entrelaçam ou pouco se aproximam. Cabe a mim então a paciência… esperar para ver ‘quem’ é que vai ficar só e ‘quem’ é que vai ficar junto. Isto é, a Inspiração Divina é quem determina se o texto permanece poema lírico ou se converte em letra musical, canção”.
Eis, junto dos poemas, algumas composições do período de 1997 a 2001, quando passei a compor com maior frequência e a realizar estudos autônomos em música.
Santa Luzia, 09 a 15 de maio de 2001.
Com informações complementares em 07 de julho de 2017.
a toda minha família
e amigos
a vin car lag, “cum panis”
inseparável nessa
trilha
a Sebastião Villas Boas
por todo apoio
e pelas primeiras afinações
(em memória)
[2001].
“… numa transa com os nervos, a música instigando o ser e dando-lhe a insistência para falar de si, de seu meio, de seus atos.
Mais pela vontade de desengavetar, registrar e fazer repercutir. Já que todos nós sabemos de nossas dificuldades – e não somente no plano artístico –, deixo aqui aos leitores e ouvintes uma enorme consideração. ”
Agradeço a:
Deus, Mamãe, Alexandre (irmão), todos os meus professores, todas as pessoas que trabalharam comigo, meus amigos, colegas músicos e artistas, apoiadores e apreciadores. Flávio Aguiari (em especial) e a uma pessoa que, sem ela, esse trabalho não se concretizaria: Raquel Rezende.
vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô vê sô verso verso verso verso verso verso verso verso verso verso verso verso verso pois é pois é pois é pois é pois é pois é pois é pois é pois é pois é poisé poesia poesia poesia poesia poesia poesia poesia poesia poesia poesia po
Babacanetababa
Babapelomenos
Babacanetababa
SoutristepremiadoDesgraçadofeliz
Poetizo
[4]
Sobre poesia
aprendi com um amigo-vizinho
conversar fiado sozinho…
CANÇÕES
Nos sinais
Deus branco nu olhando por uma criança negra
e uma branca fugindo de um demônio vestido de capa preta
Tv a teleguiar os olhos negros de uma índia
e uma daquelas amarelas trocando um chip
Uma ele, uma ela
de barriga cheia esperando mais crianças
sem barriga, sem pança
das que cansam de esperar a hora
das que jogam pedra, fumam pedra, jogam bola, dão bola
cheiram à fralda, cheiram coca, cola
das que correm, dormem, morrem, pedem, roubam
pé-de-cana, mão-de-caneca, pé-de-erva
das que não pedem para nascer
Maria que não queria família com filhos filhas
ouvindo: quem não crer, não quer criar, que não dê cria
[1] Página 10. Referência ao conflito étnico-cultural entre albaneses e sérvios na região de Kosovo.
[2] Página 12. Estrofe utilizada posteriormente na canção “à espreita da aurora”, disponível em youtube.com/user/Lopesdelarocha.
[3] Página 16. Jogo fônico-formal. Só depois descobri que o Décio Pignatari tem algo parecido composto em 1977. É de fato influência dos concretistas por meio de livros didáticos de Língua e Literatura da década de 1990. Poema composto durante exercícios do curso de datilografia.
[4] Página 16. Grupo fônico da frase no pentagrama. Clave substituída pelo emblema do movimento anarquista. Frase expletiva exprimindo afirmação dúbia.
[5] Página 19. Esta canção inspirou uma outra intitulada “Tatame”, que integra o álbum “à espreita da aurora” de 2014.
[6] Página 21. “Credi-canja Master-Sopa” é expressão criada por Eder Jack de Andrade Silva na fila para servir a merenda da E.E Raul Teixeira da Costa Sobrinho, também em meados dos anos 90.
[7] Página 23. Letra da canção Cata-vento foi musicada e cantada por Flávio Aguiari na primeira edição em 2001.
Créditos
(Poemas e canções)
172.199.289-345 FBN
4124-105-030 E.M.D.A
C.I Nº 408 FBN
Capa e ilustrações 1º edição: Lopes C. de la rocha
Ilustração nº 03: Raquel Rezende
Voz e violão: Lopes C. de la rocha
Voz em ‘Cata-vento’ (Part. Especial): Flávio Aguiari
Gravado do Studio Plug-In em 09 e 15 de maio de 2001
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Quando chegamos ao ano de 2000, eu colecionava poemas curtos motivados pelas aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, bem como pela leitura de nossos poetas modernistas. Apanhei um acerto de contas dum emprego e resolvi publicar parte dos escritos no ano seguinte. Em termos de suporte (formato) escolhi o livro com cd, pois aproveitei para distribuir doze faixas de canções gravadas com voz e violão. Era novidade oferecer ao público conteúdos em livro e compact disc audio.
Mancebos (se os há aí que se dêem às letras), vós que encetais a mui árdua e perigosa vereda que pelas letras conduz à fama, seja qual fôr o gênero de poesia para onde propendais, seja qual fôr o vosso não vulgar engenho, sejam mais forem os louvores que os velhos na arte vos concedam, e os aplausos com que as sociedades vos afoutem, não vos deis pressa de aparecer: os conselhos que Horácio vos deu duram com toda a força que a natureza e a prática lhe bafejaram. Deve-se compor de espaço, consultar os bons e peritos, guardar por nove anos, chamar e tornar a chamar dez vezes à unha a obra já perfeita. O amor próprio nos persuade e impele a aparecermos cedo: devia dêle, se não fôra cego, ter-nos mão para nos não sairmos senão a horas.
Trecho retirado do Livro “Conheça o seu idioma 6º volume” CIL S.A (1971), de Osmar Barbosa.
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Percebidas e amadas; encontradas e em desperdício.
§
Não que sejam iguais, nunca serão iguais!
São irmãs e parceiras; opositoras e rivais.
§
Está em todas as mulheres a tristeza de uma só
Nas novelas, nos livros, nos filmes, nas músicas
Nas coreografias, desenhos, estátuas e pinturas.
Um dia, sua mulher esteve numa canção
Numa história não sua, numa infância platônica
Todas as mulheres estarão num só romance
Queimam numa só paixão, numa só saudade
Gemem todas as mulheres.
§
Nossas mulheres vão à escola
Ensinar-nos o que é ser mulher,
Despertando-nos adolescentes paixões
Elas são únicas em si e sempre as mesmas
Dividem-se quando só
Multiplicam-se quando juntas:
§
Mamelucas com cacheados crespos
Mulatas de alisados loiros
Ruivas com tingidos castanhos
Cafuzas de trançados negros
Estéreis e felizes; férteis e entristecidas
Sérias e grávidas; sensíveis e menstruadas
Mulheres policiais, guardas e sargentos
Mulheres soldados rígidos
E delicadas freiras consagradas.
§
Há em todas apenas um chôro
Um mesmo desespero quando em desamparo
Sem um irmão, sem um filho, sem um pai
Sem nem um namorado ou sem um marido.
§
Trazemos em nossa memória
A velha virgem num leito de morte
Sonhando-se no altar à espera do noivo
Cortam nas maçãs de seu rosto
Duas lágrimas e explodem na cama
Como se arrebentam no mundo
Estrelas desprendidas do Céu.
§
Não consegue ver a sua no vestido da estranha?
Nos cabelos da desconhecida não vai o penteado
de sua íntima e querida?
O perfume da que de vista se conhece
não coincide com o da sua mulher, às vezes?
E no detalhe duma sandália não expressará
a cor predileta de sua amada?
§
Pelas feiras perambulam
Pechinchando e fazendo compras
Com seus corpos __ velas de cêra
Cujas cabeças iluminam.
§
Unidas e separadas por preferências
e valores; por utopias e Religiões.
§
No fim das manhãs e das tardes
Na estação do trem e do Brt
São despejadas aos milhares:
Brotos e botões
Expansivas e acanhadas
Murchas e desabrochadas
Verdes e “de vez”
Maduras e apodrecidas.
§
Hoje vi uma apodrecida
De rancor e arrependimento
Confundiu um caso passageiro
C’o homem ideal de sua vida.
§
Vi também u’as entorpecidas
De corações aos vômitos
Pelo ópio das ideologias
Invertem Romeus em Rômulos*
E sentem-se perseguidas.
§
Sendo todas as mulheres uma só,
Com diferentes almas
Corpos e espíritos;
Com parecidas origens
E semelhantes destinos…
§
Tudo podemos tão somente
Por uma única mulher,
Já por todas nada somos capazes.
Por isso, quanto à Mulher Única
Não vale à pena trocá-la por Outra
E nem às outras é justo enganá-las
Fazendo sofrer, dolorosamente…
a Sua.
***
(*) Referência ao tratado “A arte de amar”, de Ovídio.
Fotografia: Alberto Henschel. Moça cafusa, c. 1869. Recife, Pernambuco / Convênio Instituto Moreira Salles – Leibniz-Institut für Laenderkunder.
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História contada por habitantes da cidade de Leandro Ferreira/MG, numa região próxima à fazenda conhecida como “Fazenda do Souza”, isso por volta de 1955. Voz da gravação: Dulce Francisca Lopes Cançado Lobato.
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Agora que se tornaram mais nítidas as “subterrâneas guerrilhas”; agora que conservadores, liberais e libertários dos mais diversos graus se organizam na sociedade civil disputando com socialistas e coletivistas os espaços públicos e coletivos, os veículos de comunicação e as audiências, enfim, ruas e estradas; praças e palácios; templos e mercados; clubes e escolas têm se transformado em arenas que transpiram pluralidades político-ideológica, cultural e religiosa.
Em meio a essas “guerrilhas”, no meio desses fogos cruzados pela disputa do controle das pautas e temáticas estamos nós, os trabalhadores, empreendedores e profissionais da cultura artística, interessados em preservar tradições, inovar e oferecer à coletividade nossos serviços. Sem “maneirismos”, embora cada qual se identifique livremente com determinadas correntes e confissões.
Dos que já não foram muitos estão sendo convidados a erguerem bandeiras e a postar-se em tal ou qual lado na política, nos movimentos de lutas, em favor de religiões etc. É natural que aceitemos e façamos nossas escolhas com base em interesses ou princípios. Mas é importante conscientizarmos do risco de tornarmos meros instrumentos de causas injustas ou até perigosas e perversas; e do risco de sermos usados gratuitamente, por meio de explorações imorais, na transmissão de propagandas político-ideológicas totalitárias, cujos objetivos agridem liberdades e costumes já consagrados.
O presente trabalho, realizado em 2008 (basta atualizar valores mediante pesquisa de preços praticados conforme a região), visa contribuir no estabelecimento de parâmetros para compatibilizar interesses entre contratantes e contratados, garantindo ao verdadeiro trabalhador cultural uma remuneração condigna.
A cultura artística consiste em um dos campos que mais contribuem para a construção da cidadania em nosso esforço e percurso civilizatório, exigindo dos profissionais atualizações constantes, acompanhamento da tecnologia e muita dedicação, visando aprimorar e melhorar seus modos de expressar, o tratamento com os conteúdos, bem como a qualidade dos serviços prestados à coletividade.
As principais atividades exercidas por profissionais do setor são:
aprendizagem e treinamento
leitura e concepção
pesquisas documentais e de campo
composição e criação
revisão e adaptações
pré-produção
ensaios
produção
promoção e comunicação
apresentação
pós-produção
serviços de secretaria.
A cultura artística apresenta um caráter aparentemente de descontinuidade – emprega-se boa parte do tempo em formação, preparação e pesquisas, isto é, nas etapas que antecedem as apresentações e exposições finais dos trabalhos. Isso causa dificuldades no reconhecimento econômico-financeiro dos serviços, trazendo ao artista a necessidade de atendimentos simultâneos e/ou alternância com trabalhos de outros ramos.
Merecem destaque alguns aspectos relativos à qualificação, aos benefícios, às obrigações e aos custos:
os elementos necessários à elaboração de uma obra, de um espetáculo, de uma performance , por exemplo, não são coletados e organizados de uma só vez, exigindo sempre novas pesquisas e diligências;
atividade contínua do profissional, objetivando uma remuneração condizente com o trabalho que exerce, de forma a que possa levar uma vida de padrão médio, lhe oferece poucas oportunidades de férias integrais, não lhe dá direito a 13º salário, FGTS nem tão pouco seguro de vida ou aposentadoria conciliáveis com a atividade em seus anos mais produtivos;
exige participações em congressos, seminários, palestras, cursos de aperfeiçoamento, aquisição freqüente de livros, materiais didáticos, instrumentos, acessórios, aulas particulares, revistas especializadas e tecnologias, visando uma constante atualização para que o profissional acompanhe a evolução da cultura;
requer a manutenção permanente de pequeno escritório com infraestrutura básica, compreendendo computadores, programas, telefone, suprimentos e aparelhos que possibilitem o bom desempenho do empreendimento.
Na maioria dos projetos, além das etapas já citadas, o artista-empreendedor deve ainda realizar outras tarefas e exercícios que nem sempre lhe são creditados quando do arbitramento de seus honorários/cachês, talvez até por serem de difícil mensuração. São elas:
contemplação e reflexão
experimentação
busca de um grau de elaboração de linguagem satisfatório ao público e à crítica
esforço mental e físico para se chegar a certa qualidade técnica e estética
escolha do repertório
captação de parceiros, colaboradores e/ou coadjuvantes
produção textual
captação de recursos
Assim, torna-se importante que a sociedade em geral tenha conhecimento das atividades que compõem os ramos da Cultura Artística e saiba dos custos e das obrigações que recaem sobre os profissionais.
Outras considerações:
Adiantamento
Qualquer que seja a forma de contratação é justo o profissional requerer um adiantamento de, no mínimo, 30% (trinta por cento) dos honorários/cachês acordados, visando custear despesas iniciais.
Cálculo das despesas adicionais
As despesas adicionais para realização dos trabalhos devem ser incorporadas aos honorários/cachês. Entre elas destacamos:
a) despesas com deslocamento e mobilização de pessoal;
b) custos relativos à execução da proposta formal e orçamento, sendo: papel, cartucho de tinta, impressão, arte gráfica etc.;
c) custos com manutenção de escritório, relacionando ao tempo em que o trabalho de contratação se inicia. Podemos destacar: telefone, provedor de internet, energia elétrica, suprimentos de informática e papelaria;
d) custos relacionados ao exercício da profissão e custos administrativos das contratações. Deve-se ratear os custos a seguir entre os trabalhos executados de forma ponderada, proporcional e inteligível. Destacamos os seguintes itens: despesas relativas a impostos, contribuições e taxas, locação de instalações, de mobílias e/ou equipamentos, registro de obras, anuidades de órgãos de classe, manutenção de inventário cultural particular, serviços de contabilidade, cursos de aperfeiçoamento, assinatura de periódicos etc.;
e) custos com viagem: quando o profissional tiver a necessidade de se deslocar para realização de trabalhos fora de sua região, devem ser contabilizados ainda os custos de deslocamento, bem como alimentação, estadia etc.;
f) as despesas de prestação de serviços técnicos de terceiros que envolvam iluminação, sonorização, desenhos, cenários, entre outros, devem ser cobradas com base na tabela de honorários do respectivo segmento profissional.
Cálculo do valor da remuneração e reajustes
Ao calcular o valor de sua remuneração, o profissional deve, também, levar em consideração:
quantidade de espectadores;
classe de renda do tomador de serviço (contratante);
região administrativa;
característica do local e tipo de instalações;
perfil do contratante;
evolução da participação de artistas do mesmo seguimento, modalidade e/ou linha de expressão (variação na oferta);
os profissionais podem utilizar índices econômicos como o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), tomando como parâmetro os grupos educação, leitura e recreação.
Vejamos a tabela abaixo, cujos Valores Médios são expostos com base em levantamentos de características que determinam a formação de preços dos serviços prestados por músicos, dançarinos, animadores de festas, artistas circenses e atores performáticos. Como referência, realizamos pesquisa de coleta de preços na seguinte proporção e forma:
3 ( três) artistas circenses: figurino, malabarismo, mágica e brincadeiras;
3 (três) dançarinos: figurino e performance;
4 (quatro) animadores: figurino, brinquedos leves, brincadeiras e performance;
2(dois) atores performáticos: figurino, cenário portátil e performance.
HONORÁRIOS/CACHÊS POR CLASSE DE RENDA
VALORES EM REAIS POR ESPECTADOR/HORA
(* valores válidos para artistas que atuam individualmente)
Bairros por classe
Bar
Restaurante
Salão
Teatro
Cs Show
Festa Part.
Festa Part.
de renda
P.F
P.J
Popular/ Médio
4 (200)
7 (350)
7
7
7
5 (250)
10
Santa Efigênia
7 (350)
10
10
10
15 (750)
7
15
Barro Preto
7
10
10
10
15
10
20
Centro
7
10
10
10
15
10
20
Funcionários
15
20
25
25
30
30 (1500)
40 (2000)
Savassi
15
20
25
25
30
30
40
Luxo
12
15
20
20 (1000)
25
20
30
Bhz e RMBH
Os números em parênteses acima dos valores indicam (em reais) o número de 50 espectadores multiplicado pelo valor unitário
Considerações finais
A informalidade e a inadimplência, decorrentes de falhas educacionais e morais graves, limitam as oportunidades de crescimento econômico e bem-estar social, além de corroerem a integridade dos cidadãos.
Do ponto de vista material, algumas atividades, como a artística, são relegadas a segundo plano. Isso é constrangedor – sobretudo em países de governos e instituições geridas por partidos e pessoas autodenominados democratas e progressistas, de inspiração social e comprometidos com os trabalhadores.
Há empresas que se utilizam de tais falhas como diferencial competitivo e trabalhadores que desvalorizam o seu próprio papel no universo corporativo.
Empresas (públicas e privadas), produtoras, organizadores e realizadores de eventos são empreendimentos mercantis e políticos, e se aproveitam do trabalhador cultural, do artista. Não se trata, aqui, porém, de converter a inteligência, o talento, as emoções ou o espírito criativo em meras mercadorias precificadas. Consiste na busca de uma justa, se não razoável locação da mão-de-obra, dos bens autorais e patrimoniais.
Se o artista não se apossar do que lhe é de direito, outro o fará. É necessário fortalecer a consciência profissional, especialmente para assegurarmos os direitos e o bem-estar das futuras gerações.
Este site pertence ao compositor e escritor Lopes al’Cançado Rocha, o Cristiano. Disponibiliza gratuitamente aos internautas experiências de conhecimento e conteúdo para pesquisa. Clique no link a seguir para saber dos serviços que o autor oferece: https://pingodeouvido.com/cristiano-escritor-e-redator/
Túneis e tonéis é a 4ª faixa do 1º álbum virtual intitulado “à espreita da aurora” de Lopes de la rocha, músico compositor brasileiro do estado de minas gerais.
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Fluxograma é 5ª faixa do meu álbum virtual à espreita da aurora, lançado em 2014. Nessa canção dialogo com o escritor Roberto Drummond, em cuja obra Hitler manda lembranças um dos personagens diz ‘…no tempo em que Belo Horizonte era uma São Paulo de bolso.’
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Ame amar, ame viajar, ame livros...encontre amor na simplicidade da vida e viva intensamente....amanhã pode ser tarde para tudo....até para amar quem já se foi.
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