Pensador singular brasileiro, Farias Brito propôs uma filosofia do Espírito não reducionista sistematizada em seu livro O Mundo Interior.
Internautas “influenciadores”: caminhões de terra remexida- Crítica
Internautas “influenciadores”: caminhões de terra remexida
Lopes al’Cançado rocha, o Cristiano
Já são muitos os analistas e comentaristas sobre tudo. Até gosto de ouvi-los. E depois fico pensando, dou uma volta na vida lá fora e venho aqui escrever.
São verdadeiros caminhões de conhecimentos que vão sendo despejados nos buracos da rede mundial de computadores. Quem não calcula o desaterro se complica no aterro. Se não delimita o espaço, o mundo nos parece mais vasto do que é.
E só podemos abraçar um amor de cada vez. Mas as paixões são tantas que o conteúdo escapa ao contentor e se precipita no desperdício. Derramam-se as opiniões, explicações, curiosidades, exposições inúteis e o pior de tudo: as… fa-ci-li-ta-ções! Quanto mais se facilita menos se compreende e menos gôsto tem o aprendiz. Os facilitadores escondem as fontes saudáveis, os tratados, os métodos, as didáticas e os manuais consagrados. Fecham as possibilidades de arranjar a razão, o coração e o espírito de quem busca. O máximo que dão é uma referência aqui e outra ali. Exaltam o acúmulo de experiências e vivências, coisa que tem lá sua importância, mas não é nada sem o essencial.
Que esconder os tratados, os métodos e desestimular a disciplina sempre foram táticas dos governos e empresas de instrução e treinamento todos nós sabemos, mas logo nossos internautas “influenciadores” ___ esses que sonham sociedade melhor ___ negligenciarem o fato e ainda contribuírem para esse mal!?
O aterro é útil para nivelar os espaços e aproveitar a superfície. Mas a edificação se sustenta pela estrutura de fundação cravada na terra boa e natural. A fundação é na casa o que é a raiz na árvore. A casa forte proporciona lar saudável e oferece à família e à comunidade bons filhos. A isso corresponde a raiz robusta e a árvore firme com suas belas flores e bons frutos.
Para o estudante, a “terra natural ou pouco remexida” sãos as fontes primevas, os tratados, os métodos, os manuais úteis, os clássicos consagrados. Essa argamassa duradoura e bem dimensionada, esses moldes elaborados pelos primeiros homens que levantaram a civilização não podem ser substituídos por avalanches de teses, monografias, biografias, ensaios, artigos, citações intertextuais, nomes famosos, opiniões emotivas e conteúdos gerenciados por ideólogos a serviço de bestas poderosas…
Será justo esconder nossos tesouros em nome da fama pessoal, da exposição contínua ou em nome da miséria que a World Wide Webe e a Google remuneram? Façamos essa pergunta aos internautas empenhados em contribuir para nossa inteligência.
Este site pertence ao compositor e escritor Lopes al’Cançado Rocha, o Cristiano. Disponibiliza gratuitamente aos internautas experiências de conhecimento e conteúdo para pesquisa. Clique no link a seguir para saber dos serviços que o autor oferece: https://pingodeouvido.com/cristiano-escritor-e-redator/
Rudimentos ferrorama – poema

Rudimentos ferrorama
lopes al’ cançado rocha, o Cristiano
§
certeira no comportamento
máquina essa
no tom tamanho e traço
correta em organização de fila
§
coisa gigantesca essa
suga vomita dança equilibra
trazendo bonecos adolescentes
em sua empoeirada crista
§
ente absoluta essa
centopéia da vila de pedras
por entre morros ziguezagueia
e vem repetindo preces
§
essa conjunto de gomos
a vagar em escada deitada
longa escada de estações
e patas doces calçadas a tênis
§
piolho de cobra sem pés
a carregar gravatas e capacetes
paralela ao rio que ainda desce
com peixes banhados de caliça
§
potente mortífera e metálica
o rio surpreendentemente vivo
escorregando desgovernado
selestrepe e desaba
§
solitária engomada
sob o arco de fogo
fraco leão de circo
domado pelo pescoço
§
lingüiça amarra-cachorro
prontíssima para partir
sempre prestes a chegar
leva pessoas e cargas
§
que sujam almas e dinheiro
jactante tal qual esperma
a centopéia sem pernas
ou então de rodas cobertas
§
máquina de bocas destras
lábios frondosos de choque
andamento de um andante
timbres típicos do rock
§
passam-na para a música
na foto sua luz é rouca
estática nesta última
dinâmica naquel’ outra
§
tão exposta e sem arranhão
corpo absoluto e perfurador
lábios prontos para o baque
conforme delega seu interior
§
enfia-se por vários túneis
os quais a regurgitam
rasga o horizonte pela raiz
esse enorme colar de tonéis
§
vem vindo cuspindo em tudo
“nem que taque nem que taque”
Diz essa tal máquina essa
ao infante com pedras em punho
§
serpente há tempos aleijada
nem asas nem proa nem hélices
engolidora de diversas gentes
tolôsco quilométrico de fezes
§
encurva enverga taquara
de barriga para cima espelhada
num leito de pedras e cascalhos
navega tranqüila e deitada
§
orquestra de ranger de rodas
repete tempo e percurso
o das onze e o das sete horas
os mais conhecidos números
§
máquina decisiva e dúbia
caminho em formato de y
trechos em obras e concluídos
previsível em cada curva
§
segundo normas do império
suporta toneladas por eixo
otimizada na tração
na performance e potência
§
saudades de seu chocalho
o apito aviso antigo
sempre foi bem vindo
o quinhão dos assalariados
§
plantadora de cidades
rastejando quem diria?
trouxe pagamentos
pensões e aposentadorias
§
todos que a esperaram
relembraram a revelação
“era aquilo mesmo?
era mesmo aquilo?”
§
sua porção então acidentada
aos cuidados do tecnólogo
e aos olhos aqui do poeta
está sua parte imaginária
§
máquina geralmente grávida
de grãos bobinas e barras
em gestação meio inversa
com bolsas e berços de aço
§
reduzida em custos desgastes
diária preventiva e rodante
suplementada de componentes
baba demanda e disponibilidade
§
fizeram-na uma estrela pop
ei-la numa foto estampada
duma revista especializada
revestida nua ou desmontada
§
rotulada datada e batizada
com nomes de mulheres rodadas
e pioneiras agora respeitadas
carmens mirandas embananadas
§
vassoura sem cabo e vertical
sulcando a poeira do sertão
fazendo-me construir estrofes
como se cada fosse um vagão
§
as sandálias vistas do alto
parece um enorme verso
repetitivo visual e bobo
com única palavra: progresso.
fotografia: fábio almeida [2012].
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