JOÃO, MAIS UM FILHO DE NOSSA ORGULHOSA BAHIA DE SÃO SALVADOR

JOÃO, mais um FILHO de nossa orgulhosa BAHIA de SÃO SALVADOR

Entrevista

por Lopes al’Cançado Rocha, o Cristiano

Em certas rodas aqui por Minas, algumas vozes têm dito que entre os nascidos na Bahia, nenhum outro poeta recente tem se destacado quanto João Fernandes Filho. Os menores no Reino da Poesia conseguem facilmente dele uma entrevista especial, devido sua generosidade. Esse é o nosso caso.

João, conte-nos um pouco da sua infância, sua relação com a família e comunidade, sua região, sua terrinha. O escritor brotou na alma muito cedo, como nós leitores seus fomos informados. Queremos saber mais disso.

Minha infância se passou em Bom Jesus da Lapa, interior da Bahia, e tive o amor, a proteção e a liberdade necessárias dos meus pais para viver uma meninice pobre, mas riquíssima em aventuras – brincar na chuva, brincar de roda, ouvir histórias na noite em frente à casa etc. –, passar as férias na casa do meu avô materno, em cima da serra, a luz era de fifó, e a água no pote buscada na fonte. Na rua Santa Luzia, no Bairro São Miguel, em Bom Jesus da Lapa, não havia calçamento, e, após as chuvas, encontrávamos pequenos cágados nas poças de lama. A mata era próxima, o rio era próximo. Meus pais – seu João Galego e dona Dilza – cuidaram de nós, meus irmãos e eu, com raro amor e responsabilidade. Agora, por meio de sua pergunta, revendo tudo isso, percebo que tive uma infância lendária por ser simplesmente isso – uma infância comum de menino do interior do Brasil na década de 1980.

Quem é João Filho? De onde veio, onde está e para onde pretende ir?

Sou um pecador. Vim da lama, estou tentando ser limpo pelo Cristo; o problema, é claro, não é Ele, mas eu que atrapalho. E, pela misericórdia d’Ele, tenho a esperança de morar nem que seja no último casebre da periferia do Céu. Em termos pedestres, João Filho é poeta e professor, doutorando em literatura portuguesa na USP. 

Como foi a experiência rebelde de escrever letra de canções punk? Como está o letrista João hoje? O que tem ouvido? Qual o conselho que João daria aos letristas iniciantes?

Uma das minhas primeiras experiências literárias foi uma letra que escrevi com um amigo. Se não me engano, acho que com 13, 14 anos. De lá para cá, eu escrevi letras para os ritmos e gêneros mais diferentes, do punk como você indicou até o famigerado arrocha.

Hoje, os parceiros musicais mais constantes são compositores da linha do bom cancioneiro tupiniquim.

Ouço muita coisa. Para ficarmos em dois exemplos do momento: o primeiro disco do Clube da Esquina e Arvo Part.

O conselho é simples, e, acredito, todos os jovens letristas saibam: na letra prevalece a música, mas não deixem jamais de escrever letras belas, boas e verdadeiras.

Essa predileção pelo teatro lido ao assistido, queremos saber.

Na verdade, é uma deficiência minha. Tive, claro, contato com a área, escrevi uma peça – Auto do São Francisco –, mas não sou do métier do teatro. Para mim funciona mais ler a peça do que assisti-la no palco, o que é um contrassenso porque o teatro acontece no palco. Se as declamações forçadas de um poema me aborrecem, assim também as encenações antinaturais (eu sei que o termo é perigoso ao se falar de teatro) me entendiam sobremaneira.    

Genética. Processo de criação. “Faço tudo no facão, depois tomo o estilete”. A fase artesanal ajuda a alma mesmo? Há quem considere que uma coisa é desligada da outra. Explique o seu caso.

Na poesia, eu tento lapidar no momento mesmo da primeira escrita. A cada verso procuro a melhor construção sonora e imagética dentro de um contexto que faça sentido. Claro, que, depois, relendo antes de publicar em livro, eu refaço alguns versos. Tenho um arquivo imenso com poemas que não deram certo, ou que não gostei, ou que ficaram pela metade etc. Aproveito muito desse arquivo. Guardo também imagens, e até mesmo palavras, surgidas ao longo dos anos, e que, algum dia, poderei usar num verso.   

Na prosa é que faço anotações de ideias, cenas, diálogos para somente depois rearrumar, reescrever etc. Ao escrever prosa sempre refaço depois.

Forjar manifestos, escolas, movimentos hoje em dia soa cafona por quê? Para quem?

Não sei se soa cafona, mas os grupos são necessários. Escritores, de alguma maneira, sempre encontram sua “turma” estética mesmo que ideologicamente não se coadunem. Situação cada vez mais rara porque as ideologias têm prevalecido acima de todas as relações humanas. O que é uma coisa miserável. Mas, respondendo sua pergunta: cada poeta, consciente do seu ofício, possui uma cosmovisão, o que quer dizer, em outras palavras, traz escondido um manifesto, uma estética. No atual cenário brasileiro, e vejo também em outros países, a dimensão estética é a mais desprezada nos mais variados gêneros artísticos.

Proseie mais do poeta-balconista, comerciante, atendente, distribuidor de congêneres. Em verso, esse tema econômico e vital interessou bastante ao entrevistador, que defende a Rerum Novarum, o distributivismo justo. “Suum cuique tribuere” 《Dê a cada um o que é seu》》. Uma das unidades da Justiça ensinada por Ulpiano. O poeta Antônio Augusto de Mello Cançado, incansavelmente, reensina-nos até hoje aqui em Minas. (?) 

A Venda do meu pai, João Galego, é um dos meus lugares míticos. Fui criado dentro da Venda (sempre com inicial maiúscula). Quando me perguntam das minhas influências literárias, eu uso a figura do poeta-balconista que sempre rouba um pouco de cada freguês-escritor que aparece no balcão da Venda. Escrevi muitos poemas que falam ou fazem referência à Venda e ao seu universo, mas há um que não posso ler em público porque não seguro as lágrimas, é o “A Venda por dentro”, do livro Auto da Romaria. O poeta-balconista, em outra perspectiva, é também um atendente que procura servir caridosamente os seus leitores. Um leitor é o maior presente para um poeta. Ninguém é obrigado a ler o que escrevemos, a comprar o livro que publicamos; devemos conquistar esse leitor com uma escrita que contenha algo daqueles versos de don Antonio Machado: “umas poucas palavras verdadeiras.”

Colecionamos muita poesia dos anos 60, 70, 80, 90 e da dita “Poesia da Era-Lula”. Nesta última, gargalos das anteriores, a meu ver, predominou as forças demasiadamente sensitivas, engajadas no coletivismo autoritário, utopia do socialismo-XXI. Em seu livro-balancete “Dez anos que encolheram o mundo (2001-2010)”, Piza aponta a migração e o exílio como temas repisados na prosa. Incrível como as 《《editorias enviesadas e dirigidas 》》de literatura antecipam os efeitos e consequências das sementes ideológicas. Hoje vemos os venezuelanos, os nossos exilados políticos, as perseguições e as injustiças. Na poesia (2001-2010), Daniel destaca Ferreira Gullar e Fabrício Carpinejar apenas. Qual sua opinião sobre esse balanço do jornalista?

Não li o livro do Daniel Piza. Mas concordo com o resumo que você faz. Direi o óbvio (cada vez mais é vital ser dito): literatura é a arte da linguagem trabalhada artisticamente. É preciso distinguir que linguagem nesse sentido não é beletrismo, e nem o seu contrário – o desleixo. É necessário equilibrar três pilares muito bem compilados por Bruno Tolentino: abrangência, profundidade e feeling (sentimento e sinceridade). Sustentados por esses três pilares a linguagem engendra a forma. A forma é a alma da obra (forma e não fôrma). Sem isso não há obra de arte em gênero algum. A melhor poesia moderna ou pós-moderna não fugiu desse caminho.  

Não concordo com Daniel Piza no destaque de dois poetas apenas nesse período de 2001 a 2010. Entre os mais velhos, a grupo de 1965 de Pernambuco estava atuando e com renome nacional – Alberto da Cunha Melo, Ângelo Monteiro, Marcus Accioly etc. Entre os mais jovens – Érico Nogueira, Astier Basílio, Mariana Ianelli etc. Cito apenas alguns nomes de destaque nacional.

Daniel Piza incomodou muitos “coletivildos tirânicos”, pelo que sei. Mas nesse caso somos dois na discordância. Serão procurados e lidos seus autores citados. Vamos falar um pouco de crítica literária. Em 2005 o Sr. Wilson Martins disse no Caderno Idéias do Jornal do Brasil: “só sou conservador na medida que a literatura é conservadora. Não se pode revolucionar a literatura todos os dias.” Comente, por favor.

Grande Wilson Martins! Em alguns pontos de vista (por sinal, é o nome da coleção em vários volumes de sua crítica que abarca de 1954 até 2000), eu não concordo com ele, um exemplo entre tantos: sua leitura historicista da obra de Cecília Meireles. Contudo, Wilson Martins foi um gigante da crítica brasileira e não apenas literária. Estou de acordo com o comentário que você destaca do escritor paranaense. Revolucionar a literatura todos os dias é tentar recriar a roda, esquecer a imensa história da literatura que nos antecede, de Homero para cá são mais de três mil anos de escrita literária! Há que se ter um mínimo de noção e humildade com esse quase infindável acervo. O surgimento de um James Joyce, de um Guimarães Rosa (cito os grandes revolucionários) é o ápice de um período que, por acúmulo e verticalização, radicalizou os experimentos na arte romanesca. E como disse o grande mineiro é no “mais mesmo da mesmice que vem a novidade.” Sei, claro, as formas literárias caducam, precisam ser renovadas, mas, antes, é a sensibilidade nova que pede formas novas, novos caminhos. E sensibilidade não é feito a moda que muda toda semana. Desse modo, as tais revoluções da literatura apregoadas todos os anos não passam de repetições mecânicas. Quem revoluciona o tempo todo não percebe paradoxalmente a imobilidade cadavérica do seu estado.

O escritor Douglas Lobo frisa sobre “a ingênua expectativa” do Afrânio Coutinho a respeito da atividade crítica migrar dos periódicos para as universidades; já outros autores se entusiasmaram pelo fato da crítica migrar das universidades para as redes de internet. No primeiro caso, teríamos um aperfeiçoamento do gênero; no segundo, por sua vez, ganharíamos mais liberdade e acessibilidade.  Como o senhor vê esses fenômenos relacionados a suportes, ambientes, jargões etc.?

Vale deixar registrado aqui um livro que mapeia essa mudança – da chamada crítica impressionista (termo pejorativo cunhado por Afrânio Coutinho) para a crítica universitária – Crítica literária em busca do tempo perdido? De João Cezar de Castro Rocha.  

Outro registro que acho necessário: é um abuso tratar como diletantes críticos da excelência de Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Sergio Milliet, Lúcia Miguel Pereira, Augusto Meyer, Eugênio Gomes, Brito Broca, Fausto Nilo etc. Pois foi isso que fez uma boa parte da crítica universitária. Esta, no entanto, não pode ser ignorada, porque há material de altíssimo nível.   

Com a mudança do suporte deveríamos ganhar mais espaço e liberdade. Por exemplo: na internet o espaço e a liberdade são maiores, e quem desejar é só escrever, mas a qualidade é muitas vezes duvidosa. O jargão, não obstante, é inescapável. É assim em todas as áreas, não é mesmo? Claro que há exageros. O suporte em si mesmo é algo bom. A internet, para o pesquisador sério, é uma ferramenta, hoje, inescapável.    

Não sabia que Fausto Nilo escreve crítica. Deve ser ótimo, pois é arquiteto e compositor. Um ensinamento como “O ideal do Crítico” de Machado de Assis e os apontamentos de um José Veríssimo guardam ainda alguma utilidade para os dias de hoje?

Li os dois autores, mas confesso de que não me lembro de quase nada da crítica deles. Teria que relê-los para responder sua pergunta.  

“O advogado é o poeta da Justiça. O poeta é o advogado da beleza”, disse José Martiniano de Alencar. Quais seriam as responsabilidades de um poeta nos dias de hoje nessas questões de ética, estética, direitos humanos (direitos culturais), justiça e paz social?

A primeira responsabilidade de um poeta é escrever boa poesia. Seu ofício tem como base o bom, o belo e o verdadeiro. A dimensão estética vem sempre em primeiro plano. O resto vem por acréscimo. Se ele deseja fazer justiça e promover a paz social, então, vá cuidar dos pobres e oprimidos. Mas em nome de Deus e não de uma ideologia qualquer.

Filosofia. No poema Luz Primeira, da terceira parte do livro A dimensão necessária encontramos a relação conflitante do atomismo grego com a genealogia judaica. Origens dos elementos (lumens e sons), o firmamento, as criaturas tais e quais. Poderia nos dizer de seu percurso nos exercícios filosóficos? Mais por questões, problemas e sensações ou mais pela historiografia?

Com certeza pelas questões e problemas que me surgiram ao longo da vida. Não sou filósofo, e, acho, não tenho capacidade para tanto. Mas algumas questões filosóficas básicas foram intuídas desde quando eu era menino. Claro, com a intuição infantil. Uma delas na quarta série primária, e eu só soube o nome décadas depois: o infinito quantitativo. Numa aula, a estagiária falou que poderíamos perguntar o que quiséssemos. Eu fiquei intimidado porque ela me pareceu com cara de poucos amigos, apesar de permitir as perguntas. No entanto, meu pensamento de menino partiu de onde estava, em Bom Jesus da Lapa, e foi se ampliando em círculos concêntricos cada vez maiores, Bahia, Brasil, América do Sul, planeta terra, Via Láctea, e esbarrou nessa imensidão. Minha pergunta seria se não tivesse ficado intimidado: – E depois? O que é que há depois? Porque, para o menino ali, o que vinha depois era um imenso vazio branco. Eu não conseguia ultrapassá-lo de nenhuma maneira.  

Assim, minhas leituras filosóficas foram feitas a partir de questões que me surgiram ao longo dos anos. Mas também me apoiei na historiografia. O eixo geral de minhas perguntas é comum à história da filosofia – de onde viemos, para onde vamos, quem sou eu e o que faço aqui. Nada de novo.

Pergunta frequente. Afinal, poesia lírica é ou não é traduzível? Anderson Braga Horta diz que “alguns proeminentes autores dizem que não, mas os tradutores não acreditam e traduzem sem parar (…) território nebuloso, ambíguo.” Como João Filho imagina o efeito de sua poesia no leitor pensante e falante em outros idiomas?

A tradução é uma aproximação ao que foi escrito na língua de partida. E a tradução, de qualquer área que seja, é a veia aorta que ajuda a bombear vida às culturas. Quem é que conhece todas as línguas? Logo, é vital a tradução. Terá sempre perdas e ganhos, óbvio.

Está aí uma pergunta que nunca me fiz. Sério mesmo. Pensando nisso agora, eu mais desejo do que imagino: que os meus poemas, ou um verso, possam abrir uma pequenina janela de luz no coração do leitor estrangeiro.

Subsídios ( dois dos autores citados pelo entrevistador):

https://editoradanubio.com.br/o-futuro-da-literatura-brasileira-douglas-lobo/

Douglas Lobo

Daniel Piza

   







Especial “Semana de Arte & Modernismo Brasileiro”

Especial “Semana de Arte Moderna IV” | por Graça Rios

o pós-22 e alguns de seus desaguares …continuidade digressão para João Guimarães Rosa (Grande Sertão: veredas) | Cada um para seu lado | O goro do ovo | Cecília Meireles: uma simbolista dentro do Modernismo | Ícones, sinais, índices, semioses | Drummond | Bandeira | Rachel de Queiroz | Graciliano Ramos (São Bernardo) | A política de antes e a de hoje | Ninguém seguiu metodologia | Sobre as mulheres…cantiga…

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Trilha: A Prole Do Bebê N°1 – Branquinha (A Boneca De Louça) 

às primeiras décadas da República | O apetite e o sentido afetivo da Antropofagia | Retorno à Anita Malfatti | Fuga da Guerra | Aulas na Alemanha, na França e nos E.U.A | Exposição em 1917 | Cores exuberantes de nosso Brasil | A mulher, a mulher…

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Especial “Semana de Arte Moderna III” | por Graça Rios

Especial “Semana de Arte Moderna III” | por Graça Rios

Menotti e Graça Aranha | patrocínios e política cultural | As 4 (quatro) mulheres | Relacionamentos amorosos e conjugais | O que é o amor? | Villa-Lobos, concertos e discursos.

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Trilha: Villa-Lobos, “Cascavel”.
Di Cavalcanti, “Ciganos” (1940)

A Semana foi realmente um marco? | As gerações seguintes | Rumos de Minas (G. Rosa) | Tergiversações | Grau zero | Criação vocabular e simbologia| Pesquisa e criação| Quebra de tabus e preconceitos | Guerras e tristes fins | Cavalo-veículo

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Trilha: Villa-Lobos, “Caboclo &…”
Di Cavalcanti, “Duas mulatas”, 1961.

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Especial “Semana de Arte Moderna II”

Especial “Semana de Arte Moderna II” | por Graça Rios

Em busca da “língua(gem) natural” e contra o “lirismo bem-comportado” | o índio fundador da nossa cultura [pode ser contestado! | a ausência do negro na Semana | crítica a Paulo Menotti Del Picchia & Juca Mulato | Grupos: Nheengatu, Verde-amarelo, Tupi or not tupi | impossível se ater ao período | a música em ‘meu cu não é ímã | marginalização da mulher | à procura do Muiraquitã | o difícil escrever simples | Abaporu e Antropofagia | a Semana é um ovo, mas às vezes gora | Quem é que vai destruir o quê????

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sonoplastia: lopes (“esquece zé, vem jantá!” e “…que meu chôro seja ouvido”).
Muiraquitã – amuleto da sorte.

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LÍNGUA FRANCA E VIVA (PORTUGUÊS + KIMBUNDU) EM MINAS GERAIS

LÍNGUA FRANCA E VIVA (PORTUGUÊS + KIMBUNDU) EM MINAS GERAIS

(Entrevista especial com Antônio Benício Cabral: memória afetiva e literatura com base na Língua dos Negros da Costa – Língua da Tabatinga)

Nossa Língua Portuguesa aqui no Brasil constitui-se por inúmeras contribuições de povos nativos e africanos: antropônimos, topônimos, expressões que denominam alimentos, crenças, utensílios, membros do corpo, animais, vegetais, danças, ritmos, enfermidades e deformidades. Para nossas Minas Gerais vieram sobretudo povos da nação Bantu, falante do abrasileirado quimbundo [kimbundu em Angola]. Estes africanos, não por coincidência, trouxeram à colônia técnicas artesanais de mineração, metalurgia, agricultura, culinária, músicas e, claro, sua língua e crenças.

Conceituada referência sobre o assunto é o livro intitulado “PÉ PRETO NO BARRO BRANCO: A Língua dos Negros da Tabatinga (Editora UFMG, 1998), da escritora Sônia Queiroz, cuja cuidadosa pesquisa se alicerça na memória da própria autora, natural de Bom Despacho, bem como num respeitoso trabalho documental e de campo.

Nessa publicação especial, entrevistaremos outro convivente e falante da Língua da Tabatinga (ou Língua do Negro da Costa), Antônio Benício Cabral. Assim como Sônia, ele praticou quando menino e ainda guarda em sua memória afetiva o código. Benício organizou um vocabulário e nos presenteia com uma narrativa de ficção de sua autoria, contribuindo ainda mais aos interessados e pesquisadores.    

Comecemos por sua apresentação, onde nasceu e viveu, por onde andou e anda, seus escritos e como tomou contato com a Língua do Negro da Costa. Nasci em Bom Despacho mesmo, na chamada Rua da Biquinha, nos idos de 1958. Aos 3 anos de idade me mudei para a Rua dos Expedicionários (antiga Travessa Lambari), onde vivi até sair de Bom Despacho, após terminar o antigo Curso Científico, com 17 anos de idade. Morei em Brasília, Campinas-SP, Campo Grande-MS, Santos-SP, Belo Horizonte, Divinópolis e, com a aposentadoria, retornei para Bom Despacho. Sou formado em Economia, na UnB, com pós-graduação na Unicamp, e Direito, na UFMG. Sempre gostei de estudar línguas estrangeiras e falo inglês, espanhol, francês, italiano e básico de alemão. O meu contato com a Língua da Tabatinga se deu desde a infância, nos folguedos de rua, quando a gente usava várias palavras da língua para se comunicar usualmente. O uso era maior quando havia contato com os meninos da antiga Tabatinga, hoje Bairro Ana Rosa. Depois de adulto decidi elaborar o Vocabulário e realizei algumas pesquisas específicas

Por que é considerada uma língua-franca? Poderia nos explicar com suas palavras? Para mim não há dúvida de que se trata de uma língua. Entretanto, conforme leituras minhas nessa área há alguns anos, creio que a classificação correta é “Língua Franca”, que é a mistura de várias línguas de molde a possibilitar a comunicação entre gentes originárias de várias nações. O sustentáculo da Língua da Tabatinga é o português, porém há um grande uso de vocabulário de origem africana. Essa língua franca, no caso a Língua da Tabatinga, possibilitou que negros originários de várias regiões da África, conseguissem se comunicar entre si, pelo uso de vocabulário mesclado de várias línguas africanas, com o português. Cabe destacar que o português, por exemplo, já funcionou como Língua Franca em toda a Ásia, após os grandes descobrimentos, no Século XVI. Um ponto importante a destacar é que, a meu ver, é totalmente errado chamar a Língua da Tabatinga de “dialeto”. Para uma língua ser “dialeto” ela tem que se referir a outra língua da qual deriva ou que deu origem. Por exemplo, o português, o castelhano, o Catalão, o Asturiano, o Galego (este muito parecido com o português), são todos dialetos do mesmo ramo linguístico. São variações regionais da mesma língua mãe, em última análise, regredindo 2.000 anos, do latim que era falado em Roma. A Língua da Tabatinga é uma língua autônoma, independente, não está referida a nenhuma outra.

No vocabulário organizado (1985-1998) – ao que nos parece você e a Sônia intercambiaram material e memória – há palavras acrescidas e reinventadas, mostrando-nos dinâmica dos falantes, tipo: “cureio”=comida (antigo) e “Banjerê”= comida (forma atual). Na sua opinião, quais fenômenos poderíamos destacar nessa espécie de atualização? Não é bem esse o fato. O meu Vocabulário foi elaborado pela primeira vez em 1985, com a grande ajuda do meu amigo Comodoro, que já não reside em Bom Despacho. Anos depois, quando da publicação do Livro da Professora Sônia, acresci palavras ao meu Vocabulário. De fato, existem palavras que possuem sinônimos, não sei o motivo. Eu conheci comida como “cureio” e comer como “caxá o cureio” e mais tarde conheci a palavra “banjerê”. Tem falante que usa a palavra “chap-chap”, no mesmo sentido. São variações, mas não sei a origem. As invenções existem e ficam por conta da combinação de palavras conhecidas, para formar outras, como por exemplo “caramboia catita que ingira no fute” é uma invenção dos falantes, que uniram “galinha” “pequena” que “anda no céu, voa” para significar “passarinho”. Outro exemplo, “orongó” é cavalo e “tiploque” é sapato, unindo as duas “tiploque de orongó”, penso em uma ferradura. “Cuete-ocaia” é homem homossexual, combinação de “cuete”, homem, com “ocaia”, mulher.

Há pessoas que aprenderam a língua em outras cidades, como o caso do meu tio que a conheceu numa carvoaria em Uberlândia. Ele contava que o signo servia como código secreto e resistência às ações exageradas da polícia, às certas perseguições injustas. Servia também para despistar dos alcaguetes colaboradores dos patrões severos. Por outro lado, comentava meu tio, também corria-se boatos de que criminosos se utilizavam do código para encobertar pequenos delitos. Imagino que situação como essa última poderia comprometer a sociabilidade do falar…o que você tem a nos dizer sobre isso? Sabendo que essa Língua só existe em Bom Despacho, seguramente seu tio manteve contato com bondespachenses que foram morar/trabalhar em Uberlândia. De fato, os falantes usavam muito a Língua para, de certa forma, se protegerem, da Polícia, dos cidadãos de posse, que eram o patrões etc. Percebia-se muito o uso da Língua em bares mais simples e nas zonas boêmias da cidade. Usava-se a Língua para fazer comentários maldosos sobre as mulheres atraentes, coisas do gênero. O possível uso por criminosos é uma hipótese bastante aceitável, porém não tenho informações a respeito. Na verdade, por questões de discriminação racial e social, os moradores da antiga Tabatinga eram tidos como criminosos em geral, como são vistos, atualmente, os moradores das favelas das grandes cidades. Não acredito que isso tenha comprometido o uso da Língua, a questão é mais histórico/social mesmo, com a morte e a diáspora dos falantes, ao longo dos anos.

João Francisco L. Cançado (1956-2019)

Penso que, a partir dos registros já acumulados, iniciativas da comunidade junto de outros estudiosos, bem como a prática recreativa por novos falantes e a divulgação da língua nos ajudariam na compreensão histórica de nós mesmos, enquanto nação e povo de origens várias. Você vê as discriminações como obstáculos contra esse possível esforço conjunto? Verifica bons resultados nessas últimas décadas, em face de tantas lutas no sentido de superarmos tais estigmas?  Atualmente, não vejo mais discriminação, como houve no passado. Os moradores da antiga Tabatinga, por volta das décadas de 1960/1970, eram vistos como maus elementos, pessoas brigadoras, com tendências criminosas. Eram, quase todos, negros e eram muito pobres. Havia prostituição no Bairro. O bairro era provavelmente o mais pobre de Bom Despacho. Havia, visivelmente, muita discriminação por parte da gente dos Bairros mais chiques, especialmente do Centro. A Língua da Tabatinga era vista como coisa de gente baixa, os moradores do Centro da cidade não viam com bons olhos a prática dessa Língua. Era como se a Língua fosse usada para enganar e roubar os “brancos” da cidade. Hoje, ao contrário não percebo nenhuma discriminação com relação à Língua, que passou a ser vista como um patrimônio cultural da cidade. Percebo que a Prefeitura Municipal vem incentivando o conhecimento da Língua pelos alunos das escolas e vem incentivando a sua divulgação como patrimônio cultural. O antigo Sesc, que foi devolvido para a Prefeitura, foi batizado como “Conjolo de Vissunga” (Casa de Cultura, ou Casa de Festa). Não acredito que a Língua voltará a ser falada, mesmo porque o seu uso era totalmente espontâneo, mas já é alvissareiro saber que a Prefeitura e os cidadãos vêm dando mais valor à memória da Língua da Tabatinga. Seria muito bom ver pessoas usando a Língua da Tabatinga na rua, novamente, mas creio que isso é uma utopia.

Quando você escreveu e o que mais lhe motivou a escrever o conto “O cuete que caxô imbuete dos viriango”? Quando foi publicado pela primeira vez, enfim, fale-nos um pouco do processo. Escrevi esse conto há alguns anos, não me recordo precisamente. O que me motivou, especialmente, foi tentar manter a memória da Língua da Tabatinga, porém demonstrando na prática como se dá a sua utilização. Uma coisa é um Vocabulário, frio, estático, outra bem diferente é um texto, que flui, que tem ritmo, que simula a fala de alguém. O ruim é que não dá para fugir muito do assunto abordado no conto. O vocabulário remanescente da Língua da Tabatinga é muito restrito e fica limitado a questões de trabalho, bebida, sexo, casamento, polícia, coisas mais comuns na vida das pessoas mais simples, que eram os autênticos falantes da Língua da Tabatinga. Eu tinha um receio de que, com o passar dos anos, eu mesmo perderia a capacidade de produzir um texto, um discurso, uma narrativa, na Língua da Tabatinga, coisa que já está ocorrendo. A memória vai ficando difusa, diáfana, em razão da falta da prática, infelizmente.

Maria Joaquina da Silva, a Dona Fiota (1928-2012). Guardiã e transmissora da remanescente tradição oral na cidade de Bom Despacho/MG. Dona Fiota, seus familiares e comunidade trabalharam em projeto com a Fundação Guimarães Rosa e contribuíram com inúmeras pesquisas acadêmicas.
Maria Joaquina da Silva, a Dona Fiota (1928-2012). Guardiã e transmissora da remanescente tradição oral na cidade de Bom Despacho/MG. Dona Fiota, seus familiares e comunidade trabalharam em projeto com a Fundação Guimarães Rosa e contribuíram com inúmeras pesquisas acadêmicas.

Vimos que o autor é mais que bissexto nas modalidades de poesia e ficção. Quais são suas obras escritas e publicadas? Gosto de escrever e tenho alguns projetos, para o futuro próximo, entretanto não me considero um escritor. Mesmo porque tenho mais facilidade com assuntos técnicos do que com literatura. O único livro que escrevi, que nunca foi publicado em papel e está no meu Blog, é “O ESTADO NO ESTADO, por que os Funcionários Públicos são indolentes?”. É uma análise da Administração Pública brasileira, por alguém que atuou como Servidor Público Federal concursado, até então, por 22 anos, além de algum tempo anterior como contratado. Cumpri 34 anos como Servidor Público Federal concursado. Já publiquei artigos em jornais universitários, jornal local, jornais murais da cidade e semelhantes. Trabalhos acadêmicos foram muitos, nos anos de faculdade. Algumas Monografias para conclusão de curso. Eventualmente, escrevo alguma coisa, mais de cunho político, nas redes sociais. Tenho um Blog que precisa ser mais movimentado. Tenho dois projetos de livros para o futuro próximo, um sobre “Ideologia” e outro sobre “tópicos de Direito Penal”, que tem relação direta com minha vida profissional no Serviço Público.

Bom, é isso, espero haver atendido o esperado. Coloco-me à inteira disposição. Muita satisfação poder falar sobre a Língua da Tabatinga, da qual tenho muito orgulho, orgulho natal.

O CUETE QUE CAXÔ IMBUETE DOS VIRIANGO

O cuete-atiapo caxava curimba no sengue, lá no Quebra-Cocão, no conjolo do cavinguero da ingura avura. O cavinguero era avuraça, tipurava os cuete do cumbaro avura de Brasia, os cuete que caxa ingura avura e ingira no fute, na uruma-do-fute e caxa urunanga opepa, com cavu e tiploque de coro de cangura-do-sengue. Na curimba do sengue, o cavinguero ingira na uruma avura, caxa urunanga opepa e tiploque de sengue caxado nos istazunidos. O cuete-cavinguero é cheio dos tiparo dos imbondo, com oronha de oro e percinê de cuete-avura. O cavinguero é dotô. As gibera do cavinguero é cheia das ingura avura.

O cuete-atiapo curimbava carregano uruma de carguero, com assangue, tipoquê, pungue e as veiz cajuvira. O cuete ingirava do isquife quando o carambóia-cuete tipurava um cacarejo, antes do unde tipurá no sengue. O cuete tipurava um cajuvira com caviconve e uns cumicove e adispôis tipurava um marcanjo de paia de pungue. Aí o cuete ia caxá curimba. Caxá o haver de gombê. E aí era ingirá pro sengue e batê moco no conjema. O cuete prantava vianjê, tipoquê, pungue e assangue.

Quando caxava a sexta-feira o cavingueiro ia caxá as ingura dos cuete do sengue. A ingura catita. O cuete tipurava a ingura e o tué do cuete caxava uarrufo. Os cuetim ingirava caladim, só cramano, tué baixado. Aí os cuete ingirava pra redovia mode caxá o camba, pá ingirá pro conjolo, no cumbaro. Os cuete ia ingirano no camba, só tipurano as ocaia dos tinhame avura, os mavera bão de caxá e as urunanga catita. Os cuetim ia tipurano uns pros outros, pra ingirá pro conjolo de matuaba e caxá uma omenha-de-vianjê, no oteque.

O pobrema é que o cuetim era cassucarado e o cassucara do cuete foi coisa séria, no conjolo-do-Granjão, com inganga de verdade. E a ocaia-do-cuete tava no conjolo só tipurano o cuete caxá. A ocaia já ia tipurano as ingura do cuete, mode caxá os tiparo dos imbondo pro camonim. O camonim do cuete era catita e caxava muito haver de gombê. Aí o cuete caxô um tiquim de ingura na gibera, mode a ocaia num tipurá, pra caxá os grozope com os cuete lá.

Quando é fé, a ocaia ingirô pro conjolo da ocora dela pra tipurá a uruma de tipurá, as novela da grobo. A ocaia ingirô com o camunim. O cuete caxô uns cureio que a ocaia dexô no conjolo. Tinha tipoquê com assangue, biguibote, camberela de gombê, urufim frito, haver de carambóia, mantambu cuzido e uns pedaço de orelo. Aí o cuete tipurô, tipurô, tipurô… tipurô a uruma de tempo, caxô um marcanjo de paia de pungue e ingirô pro conjolo-de-matuaba. As ingura tava na gibera do cuete. O cuete caxô umas urunanga avura pra caxá ocaia e tipurô um tiploque opepa que o cuete catiolô no conjolo dos tiparo dos imbondo de ingura avura. O cinto do cuete tinha fivela de tiploque-de-orongó.

O conjolo do cuete era no Quenta-Sol, mais o conjolo-das-matuaba era na Tabatinga, pertinho do conjolo do Bené-Pião. Aí o cuete ingirô na uruma-de-equilíbrio.

No conjolo-da-matuaba o cuetim já foi caxano os grozope com os outros cuete e o tué do cuete ia só ingirano. O cuete tipurava tudo quanto é ocaia e as ocaia caxava uarrufo com o cuete. As ocaia só mandava o cuete ir ingirá no conjolo-do-Demonho, o cangura oveva de coreã-de-gombê. As ocaia mandava o cuete ir caxá cuxipa no janô. O tué do cuete só ingirano no fute.

O cuete resorveu ingirá pro conjolo das ocaia-de-cuxipa, na Rua da Garça. O tué do cuete tava ingirano no fute, por causa da matuaba avura. Quando o cuete passou na Praça da Matriz tinha um cuetim tipurano marcanjo avura. O cuetim ofereceu pro cuete. O cuete falô: “num tipuro marcanjo avura não, cuete; sô cuete curimbadô; cuete de cassucara; os viriango tipura ocê, sô”. Aí o cuetim falou: “tipura um tiquim aí, cuete-ocaia, pro tué ingirá; é bão, sô”. Aí o cuete tipurô o marcanjo avura e ingirô pro conjolo-das-ocaia. O tué do cuete tava ingirano no fute por causa da matuaba e do marcanjo avura.

Aí o cuete chegô no conjolo-das-ocaia-que-rasta-cuxipa e tipurô uma ocaia cafuvira do janô avura e caranguela catita. O tué do cuete ingirô que nem pião. O cuxipo do cuete foi ficano avura e o cuete foi tipurano o janô da ocaia. O janô da ocaia era opepa. O oranjê da ocaia era opepa. Os tiparo da ocaia era opepa tamém. O cuete perguntô pra ocaia cafuvira quanto que era de ingura pra caxá cuxipa. A ocaia falô pro cuete que era cem cruzeiro e o cuete perguntô se a ocaia rastava cuxipa no janô, porque o janô da ocaia era avura. A ocaia caxô uarrufo e mandô o cuete e caxá cuxipa no janô. A ocaia falô que só tipurava cuxipa na marcela. Aí o cuete chamô a ocaia para ir pro isquife rastá cuxipa.

Quando o cuete cabô, falô pra ocaia que tava atchapo, que num ia caxá ingura não. Falô pra ocaia que a ingura ingirô no conjolo-das-matuaba. O cuete falô que só ia caxá vissongue na outra sexta-feira. Aí a ocaia cafuvira caxô uarrufo e ingirô um turisco na cabeça do cuete. Aí o conjolo-das-ocaia virô foi uma vizunga, aquês tiparo dos imbondo, com as ocaia tudo encima do cuete e ês prancheano e o cuete tentano ingirá. Aí caxaro os viriango.

Os cuete-viriango já foro tipurano os moco-de-undaro no tué do cuete. Aí os viriango falaro pro cuete: “ô cuete, seu tué tá ingirano, cê fica queto se num quisé fitá viru”. Caxaro o cuete na uruma-de-viriango e ingiraro pro conjolo-dos-viriango. No conjolo-dos-viriango é que foi a verdadeira vissunga. Aí os viriango ia caxano imbuete no cuete. Caxava imbuete no tué do cuete, caxava imbuete no janô do cuete, no babatimão do cuete, pra toda banda. O cuete caxô imbuete dos viriango até prancheá. Aí o cuete rastô tiprequé no conjolo-dos-viriango.

Aí quando o carambóia-cuete tipurô o cacarejo o cuete levantô do isquife oveva e tipurô o cumba-do-bélude caxá quadrado.

Belo Horizonte, 18 de outubro de 2009-

BENÍCIO CABRAL

VOCABULÁRIO DA LÍNGUA DA TABACA

(Também chamada “Língua dos Negros da Costa” [Angola])

Vocábulos de “a-x”

Aiaquinzim. S.m. Queijinho

Arumute. S.f. Abóbora; Var: Urumute.

Arunanga. S.f. Roupa, calça. Var: Urunanga.

Assangue. S.m. Arroz. Var: Assango; Assengue; Imassango; Missangue.

Assengue. S.m. Arroz. Var: Assangue.

Atchapo. Adj. Pouco; Esfarrapado; Maltrapilho; Roto; Estragado; Inutilizado

etc.; sem dinheiro. S.m. Pobre. Sin. Tchapo ou Tiapo.

Atiapo. Adj. Vide Atchapo.

Avura. Adj. Grande; Grosso; Depressa; Muita quantidade. Também usado para designar pessoa boa, coisa boa, bonita, ou coisa positiva de um modo geral (nesta acepção, o mais correto é Opepa).

Avuraço. Adj. Grandalhão; Muito grande.

Avurinha. Adj. Bonitinho.

Babatimão. S.m. Suã de vaca.

Bambi. S.m. Frio.

Banjeco. S.m. Qualquer instrumento musical. Var: Imbanjeco.

Banjerê. S.m. Comida. Var: Conjerê. Sin: Cureio (esta é a forma mais usada atualmente).

Bélude. S.m. Dia (por oposição a noite, que é Oteque).

Biguibote. S.m. Macarrão.

Bugue: S.m. Milho. Var: Pungue.

Cachar. V. Pegar; trazer; cair (chuva); dar; entregar; tomar; roubar; beber; comer; etc. “Funciona como verbo passe-partout cujo sentido se define pelo contexto.” Var: Acachar.

Cachar Covera. V. Adoecer.

Cachar o Cureio. V. Almoçar; jantar; ceiar.

Cachar Curimba. V. Trabalhar.

Cachar Cuxipa. V. Transar; fornicar; prostituir-se; etc. Sin: Rastar Cuxipa.

Cachar Esquife. V. Ir deitar-se; ir domir.

Cachar Janô. V. Sin. Cachar Cuxipa, só que mais usado para a atitude passiva.

Cachar Matuaba. V. Beber bebida alcoólica.

Cachar Matuaba no Tué. V. Encher a cara; beber até se embebedar.

Cafanhaque.S.m. Dente; Mandíbula;Queixada.Var:Cafanhaco; Gafanhaque.

Cafunguera. Var. de Cavinguero.

Cafuvira. S.m. e Adj. Preto; Negro; Escuro; Crioulo. S.m. ou f. Homem Preto ou Mulher Preta. Var: Cavuvira.

Cajuvira. S.m. Café.

Camargo. S.m. Saco.

Camargo Catita. S.m. Embornal.

Camba. S.m. Ônibus. Var: Cambajara; Cambajarra.

Cambajara. Var: Camba.

Cambém. S.m. Vasilha; recipiente; panela; copo.

Cambém de Cajuvira. S.m. Xícara (para café).

Cambém de Cureio. S.m. Panela

Cambém de Caxá o Cureio. S.m. Prato.

Cambém de Curimba. S.m. Ferramenta (instrumento de trabalho).

Cambém de Omenha. S.m. Copo (vasilha para água).

Cambém de Caxá Omenha. S.m. Talha.

Camberela. S.f. Carne. Var: Camberelo; Timbere; Timberéia.

Camberelo. Var: Camberela.

Camberela de Cangura. S.f. Carne de porco.

Camberela de Cangura de Omenha. S.f. Carne de peixe.

Camberela de Cangura do Sengue. S.f. Carne de caça.

Camberela de Carambóia. S.f. Carne de galinha (de frango).

Camberela de Gombê. S.f. Carne de vaca (de boi).

Cambereluda. S.f. Carnuda; gorda; boazuda.

Cambóia. S.f. Locomotiva.

Cambuá. S.m. Cachorro; cão.

Cambuá-Camoninho. S.m. Cachorrinho; filhote de cachorro.

Cambuá do Sengue. S.m. Lobo; cachorro do mato.

Camoná. S.m. ou f. Menino; menina; criança. Var: Camoninho (mais usado).

Camoninho. S.m. ou f. Criança; menino; garoto; guri (masc. ou fem.).

Camoninho no Jequê. Adj. Grávida.

Canambóia. S.f. Galinha. Var: Carambóia (atualmente mais usado).

Candambora. Var. Carambóia (atualmente mais usado).

Cangura. S.m. Porco; leitão; cachaço. Var: Canguro.

Cangura do Sengue. S.m. Bicho; animal selvagem.

Cangura de Omenha. S.m. Peixe (bicho que vive na água).

Carambóia. S.f. Galinha; frango; por extensão: galo (Carambóia-Cuete). Var: Canambóia; Candambóia Candambora; Candombóia; Candombora.

Carambóia Catita que Injira no Fute. S.f. Passarinho.

Caranguela. S.f. Aparelho sexual feminino; vulva; vagina. Sin: Marcela.

Cassucara. S.m. Casamento; matrimônio. Var: Cassucaro.

Cassucarar. V. Casar-se; contrair matrimônio.

Catiolar. V. Roubar.

Catita. Adj. Pequeno. Var: Catito. Por ext.: feio; sem valor; inútil; fraco etc. (nestes últimos sentidos, o mais correto é utilizar Oveva.

Catovelana ou Cotovelana. S.f. Faca.

Cavicome. Vide Caviconve.

Cavicongo. Vide: Caviconve.

Cavicongue. Vide: Caviconve.

Caviconve. S.m. Pão. Var: Cavicome; Cavicongo; Cavicongue; Conviconve; Conficonfe.

Cavinguero. S.m. Fazendeiro; patrão. Por ext: dono; chefe. Adj. Rico. Var: Cafunguera; Cavinguera; Cavinguerão; Cavunguera; Cavunguero; Vindero.

Cavu. S.m. Paletó.

Conema. Cocô; fezes; esterco.Var: Conena.

Conficonfe. Vide: Caviconve.

Conjema. S.m. Cemitério; morte. Por ext: terra. Fitar Viru: morrer.

Conjerê. S.m. Comida; Almoço; Janta; Ceia. Var: Banjerê. Sin: Cureio.

Conjolo (ô). S.m. Casa; residência. Por ext.: prédio; repartição etc. Var: Conjor; Conjô; Canjolo.

Conjolo das Ocaia. S.m. Zona boêmia; cabaré; randevu.

Conjolo de Camberela. S.m. Açougue.

Conjolo de Conena. S.m. Banheiro; instalações sanitárias.

Conjolo de Conjema. S.m. Cemitério (pode-se usar apenas Conjema).

Conjolo de Covera. S.m. Hospital.

Conjolo de Curimba. S.m. Local de trabalho; escritório; oficina.

Conjolo de Cuxipa. Sin. Conjolo das Ocaias; motel.

Conjolo de Gombê. S.m. Curral.

Conjolo de Grozope. S.m. Bar (mesmo que Conjolo de Matuaba).

Conjolo de Ingura. S.m. Banco.

Conjolo de Matuaba. S.m. Bar.

Conjolo de Omenha. S.m. Mictório; banheiro.

Conjolo de Viru. S.m. Cemitério. Sin: Conjolo de Conjema.

Conjolo do Granjão. S.m. Igreja.

Conjolo do Longado. S.m. Discoteca; clube; casa de dança.

Conjolo dos Cuete-Ocora. S.m. Asilo.

Conjolo dos Viriangos. S.m. Cadeia. Por ext: batalhão.

Conteque (ê). S.m. Noite. Mais usado: Oteque.

Conviconve. Vide: Caviconve.

Coreã. S.m. Chapéu; cobertura.

Coreã de Gombê. S.m. Chifre.

Covera. S.f. Doença. Var: Corvera.

Cuete (ê). S.m. Homem; moço; rapaz; cara; sujeito. Por ext: macho.

Cuete-Avura. S.m. Cara Grande. Por ext: Cara legal; cara bonito; cara rico.

Cuete Curimbador. S.m. Trabalhador; operário; proletário.

Cuete da Ocaia. S.m. Marido.

Cuete do Conjolo de Granjão. S.m. Padre; sacristão. Sin: Inganga.

Cuete-Ocaia. S.m. Homem homossexual; pederasta passivo; bicha; homem gay.

Cuete-Ocora. S.m. Homem velho. Por ext: Pai.

Cuete-Omano. S.m. Irmão. Sin: Imbanje.

Cuete-Tata. S.m. Pai.

Cumba. S.m. Luz; lâmpada. Var: Pumba.

Cumba do Bélude. S.m. Sol. Sin: Unde.

Cumba do Oteque. S.m. Lua.

Cumbaro. S.m. Cidade. Var: Cumbara.

Cumicove. S.m. Quitanda; salgado; tira-gosto. (Trata-se de variação de Caviconve).

Cureiar. Sin: Cachar o Cureio. Var: Curiar.

Cureio. S.m. Comida; almoço; janta; ceia. Sin: Banjerê ou Conjerê. Var: Cureia; Curei.

Curimba. S.m. Trabalho; ocupação; ofício. Var: Curimbo; Curima; Curimo.

Curimbar. V. Trabalhar. Var: Curimar.

Cuxipa. S.f. Pênis; órgão sexual masculino. Var: Cuxipo. Sin: Erpido.

Cuxipador. S.m. Aquele que pratica sexo com freqüência. Gíria: comedor;

fodedor.

Cuxipar. V. Sin. Rastar Cuxipa.

Cuxipo. S.m. Pênis; órgão sexual masculino. Var: Cuxipa. Sin: Erpido.

Encachar. V. Sin. Cachar.

Erpido. S.m. Pênis. Sin: Cuxipa, Cuxipo.

Esquife. S.m. Cama; leito. Var: Isquife. Sin: Tiprequé.

Fitar Viru. V. Morrer; falecer.

Fute. S.m. Céu; firmamento; ar; espaço sideral.

Gafanhaque. S.m. Dente; Queixo; Mandíbula. Var: Cafanhaque e Cafanhaco.

Gombê. S.m. Gado; vaca; boi.

Gombê-Camoninho. S.m. Bezerro (Gombê Catita).

Granjão. S.m. Deus; o Todo-Poderoso. Var: Garanjão; Garanjame.

Grozope. S.m. Cerveja.

Grozopiado. Adj. Bêbado.

Grozopim. S.m. Bebidinha; qualquer bebida alcoólica de dose.

Haver de Carambóia. S.m. Ovo. Sin: Sabor.

Haver de Gombê. S.m. Leite.

Imassango: S.m. Arroz; Var: Assangue; Assengue; Missangue.

Imbanje. S.m. Irmão. Sin: Cuete-Omano. Var: Imbangue.

Imbanjeco. S.m. Qualquer instrumento musical. Por ext: toca-disco; toca-fita; toca CD. Var: Imbanjeque; Banjeco.

Imbanjeco de Imbuete. S.m. Violão.

Imbera. S.f. Chuva. Sin: Omenha do Fute.

Imbiá. S.m. Cigarro. Sin: Marcanjo.

Imbondo. S.m. Qualquer coisa; objeto.

Imbuete (ê). S.m. Pedaço de pau; madeira; cacete; porro; taco. Por ext: pênis.

Imbuete de Undaro. S.m. Pau de fogo; arma de fogo; espingarda. Sin: Moco de Undaro.

Imbuta. S.f. Cobra; lingüiça. Var: Imbuca.

Inca. S.m. Ânus; cu. Sin: Janô.

Indaro. S.m. Fogo. Sin: Undaro.

Indu. S.m. Feijão. Sin: Tipoquê.

Inganga. S.m. Padre; sacerdote; feiticeiro (pajé); Sin: Cuete do Conjolo de Granjão.

Ingora. S.m. Cavalgadura; cavalo; jegue; burro. Sin: Orongó.

Ingura. S.f. Dinheiro; numerário; riqueza.

Ingura Avura. S.f. Rico; cheio da nota.

Ingura Catita. S.f. Pobre; pobretão; sem dinheiro. Sin.: Tchapo.

Injara. S.f. Pênis. Sin: Cuxipa.

Injara Mitomo. S.f. Barriga (pouco usado). Sin: Jequé.

Injira. S.f. Carona; transporte.

Injirar. V. Andar; fugir; correr; voar; sair; sumir; escafeder-se; jogar (pedra ou objeto); atirar etc.

Injirar no Fute. V. Voar.

Injirar no Viru. V. Morrer; falecer. Sin: Fitar Viru.

Injirar pro Esquife. V. Ir deitar-se; ir dormir.

Insu. Adj. Azedo.

Isquife. S.m. Cama. Var: Esquife.

Janô. S.m. Ânus; cu; bunda.

Jequê. S.m. 1. Barriga; ventre; útero; pança. 2. Buraco. Var: Jequé.

Jiqui. S.m. Buraco.

Liporê. S.m. Fruta. Var: Tiporê.

Longado. S.m. Rebolado; dança; jeito de andar;

Mantambu. S.m. Mandioca. Var: Matambu.

Marcanjo. S.m. Cigarro; pito; fumo. Sin: Imbiá. Por ext.: Marcanjo Avura: maconha.

Marcanjo Cafuvira. Fumo de rolo.

Marcela. S.f. Vulva. Sin. Caranguela.

Maruco. S.m. Litro de cachaça.

Massarundá. S.f. Banana.

Matambu. S.m. Mandioca. Var: Mantambu.

Matuaba. S.f. Bebida alcoólica; cachaça.

Matuaba no Tué. Adj. Bêbado; borracho; bebum.

Mavero. S.m. Mama; peito de mulher; seio. Var: Mavera.

Mingüé. S.m. Gato; felino (masc. ou fem.).

Mingüé do Sengue. S.m. Onça.

Missango. S.m. Arroz. Missangue.

Missongue. S.m. Dinheiro (pouco usado). Sin: Ingura.

Mitomo. Ver: Injara Mitomo.

Moco. S.m.Qualquer ferramenta ou instrumento de trabalho;enxada; enxadeco.

Moco de undaro. S.m. Arma de fogo; revólver; espingarda. Sin: Imbuete de Undaro.

Moná. S.m. Criança (Var. de Camoná ou Camoninho).

Mongo. S.m. Sal. Var: Mungo; Mungue.

Montecristo. S.m. Carvão.

Moxé. S.m. Sapo.

Ocaia. S.f. Mulher; moça; garota; fêmea etc.

Ocaia de Cuxipa. S.f. Prostituta; Sin: Ocaia que Rasta Cuxipa.

Ocaia-Ocora. S.f. Mulher velha. Por ext: Mãe.

Ocaia-Omana. S.f. Irmã.

Ocaia que Rasta Cuxipa. S.f. Prostituta; piranha; galinha.

Ocora. S.m. ou f. Homem velho; pai. Mulher velha; mãe.

Oli. S.m. e Adj. Branco.

Omana. S.f. Irmã. Omano. S.m. Irmão.

Omenha. S.f. Água; água potável.

Omenha de Cuxipa. S.f. Urina; xixi; mijo.

Omenha de Vianjê. S.f. Pinga; cachaça; aguardente de cana.

Omenha do Fute. S.f.: Chuva Sin. Imbera.

Opepa. Adj. Bonito; bom. Pessoa loura. Var: Apepa; Apepe; Atleba; Opepe; Oprepa.

Oranjê. S.m. Cabelo; cabelos. Por ext: pêlos. Var: Aranjê.

Oranjê de Cafanhaque. S.m. Barba; Bigote.

Oranjê de Cafuvira. S.m. Pixaim, carapinha.

Oranjê Opepa. S.m. Cabelo bonito; por ext: louro; liso.

Oranjê de Geada. S.m. cabelo grisalho.

Orelo. S.m. Gordura; Toicinho.

Orongó. S.m. Cavalo;égua;cavalgadura.Sin: Ingora.Var:Arangó; Arangome; Aranguão; Orangó; Orongome.

Oronha. S.m. Relógio. Também se diz: Uruma de Tempo.

Orufim. S.m. Peixe. Var: Orufino; Ourofino; Urufim.

Oruma. S.f. Carro. Var: Uruma.

Otata. S.m. Pai. Var: Tata.

Oteque (ê). S.m. Noite. Var: Conteque.

Oveva. Adj. Torto; feio; atrapalhado; machucado.

Percinê. S.m. Óculos.

Pó de Bugue. S.m. Farinha de Milho. Var: Pó de Pungue.

Pó de Mantambu. S.m. Farinha de Mandioca.

Pranchear. V. Cair; levar um tombo.

Prancheio. S.m. Queda; tombo; caída.

Protiuda. S.f. Bunda; nádegas; traseiro. Var: Protiude.

Pungue. S.m. Milho. Var: Bugre; Bugue; Burre.

Radiopipa. S.f. Bunda; nádegas. Sin: Protiuda.

Rastar Cuxipa. V. Fornicar; transar; fazer amor.

Rastar Longado. V. Dançar.

Rastar Tiprequé. V. Dormir; deitar-se.

Rastar Urunanga na Omenha. V. Lavar roupa.

Sabor. S.m. Ovo. Sin: Haver de Carambóia.

Sengue. S.m. Roça; mato; mata. Por ext: Fazenda; zona rural. Var: Sengo.

Tata. S.m. Pai; genitor. Var: Otata.

Teia. S.m. Tatu.  

Tchapo. Adj. Esfarrapado; maltrapilho; roto; estragado; inutilizado etc. Sem dinheiro; pobre. Var: Atchapo.

Tibanga. Adj. Bobo; idiota; imbecil; otário; inepto; simplório; ingênuo; boçal; trouxa; parvo etc. Var: Tibanguara.

Tibanguara. Var: Tibanga.

Timbuá. S.m. Mão.

Timbere. S.f. Carne. Var: Camberela (mais usado atualmente).

Timberéia. S.f. Carne Var: Camberela (mais usado atualmente).

Tinhame. S.m. Perna; coxa; coxa feminina. Var: Quiname.

Tinhame de Uruma. S.m. Roda (de carro).

Tiparo. S.m. Olho. Var: Tipara.

Tiparo dos Imbondos. S.m. (geralmente usado no plural) Rolo; quinquilharia; bricabraque; badulaque; coisa confusa e desconexa; gambiarra; objeto não identificado etc.

Tiploque. S.m. Sapato; calçado de um modo geral. Var: Tipoque; Tiproque.

Tiploque de Orongó. S.m. Ferradura.

Tiploque de Uruma. S.m. Pneu.

Tipomo. S.m. Chapéu. Sin: Coreã. Var: Ticomo; Pongo.

Tipoque. S.m. Sapato. Var: Tiploque.

Tipoquê. S.m. Feijão. Sin: Indu.

Tiporê. S.m. Fruta. Var: Liporê; Ariporê.

Tiporê de Insu. S.m. Limão.

Tiporê de Uíque. S.m. Laranja; tangerina.

Tiporê do Sengue. S.m. Fruta silvestre.

Tiprequé. S.f. Cama. Sin: Esquife. Var: Tipequera; Tipeqüera; Tipequé; Tiprequero.

Tiproque. S.m. Sapato. Var: Tiploque.

Tipurar. V. Olhar; observar; ver etc.

Tué. S.m. Cabeça; crânio; cérebro; inteligência etc.

Tué Uarrufo. S.m. Nervoso; cabeça quente; alterado; preocupado.

Turisco. S.m. Pedra; seixo; cascalho; rocha. Por ext: Bola de sinuca.

Uarrufo. Adj. Bravo; selvagem; forte; arredio. Var: Arrubo; Arrufo; Uarrubo; Uarrufa.

Uba. S.f. Cerveja. Sin: Grozope.

Uíque. Adj. Doce; coisa doce. S.m. Açúcar.

Undaro. S.m. Fogo; fósforo; isqueiro; faísca etc. Var: Indaro; Sundaro; Undara.

Unde. S.m. Sol. Sin: Cumba do Bélude.

Urufaco. S.m. Sapato. Sin: Tiploque. Var: Uruvaco.

Urufim. S.m. Peixe. Var: Orufim.

Uruma. S.f. Carro; veículo. Por ext: máquina. Var: Orum; Oruma; Orume; Orumo; Urum; Urumo.

Uruma de Equilíbrio. S.f. Moto; motocicleta; motoneta; lambreta; vespa.

Uruma de Gombê. S.f. Carro de boi.

Uruma de Omenha. S.f. Barco; navio; canoa.

Uruma de Orongó. S.f. Charrete; carroça.

Uruma de Pedal. S.f. Bicicleta.

Uruma de Tempo. S.f. Relógio. Sin. Oronha.

Uruma de Urunanga. S.f. Máquina de costura.

Uruma do Fute. S.f. Avião.

Urumute: S.f. Abóbora; Var: Arumute.

Urunanga. S.f. Roupa; vestimenta; calça; camisa; vestuário. Var: Arundanga; Arunanga; Urundanga.

Urunanga Catita de Cuete. S.f. Cueca.

Urunanga Catita de Ocaia. S.f. Calcinha.

Urunanga de Mavero. S.f. Sutiã.

Vianjê. S.m. Cana-de-açúcar.

Vindero. S.m. Patrão. Var. de Cavinguero.

Viriango. S.m. Soldado; policial; polícia; meganha; samango; etc.

Viru. S.m. Defunto; morto; cadáver.

Vissongue. S.m. Dinheiro (pouco usado, antiquado). Sin. Ingura.

Vissunga. S.f. Festa; baile; pagode. Var: Vizunga.

Vizunga. S.f. Festa. Var: Vissunga.

Xapixape. S.m. Comida. Sin mais usado: Cureio.

Bondês; Bederodes; BD; (Bom Despacho),

28 de maio de 1985. ANTÔNIO BENÍCIO DE CASTRO CABRAL & IVÃ RODRIGUES DO COUTO (COMODORO)

Atualizado com a união com o vocabulário da Professora Sônia Queiroz, integrante do seu livro “PÉ PRETO NO BARRO BRANCO, A língua dos negros da Tabatinga”; pg. 112 a 138. Editora UFMG, Belo Horizonte, 1998.

Referências:

CABRAL, Antônio Benício. Benício Cabral Produções. A Língua da Tabatinga. O Cuete que caxô imbuete dos viriango.Coordenação e desenvolvimento do autor. Disponível em: <https://beniciocabral.wordpress.com/>. Acesso em: 19 maio 2020.

CABRAL, Antônio Benício. Entrevista Especial sobre Literatura e a Língua da Tabatinga. Mensagem recebida por <beniciocabral@gmail.com> 05 de agosto de 2020.

GATTUCO, Gio. Linguas Africanas: 10 palavras do Kimbundu usadas pelos brasileiros. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_4OGwDEmBLc >. Acesso em 07 maio 2020.

MAZZITELLO, Maria Catarina. Cuete Cavinguero tá injirando. Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Desenvolvimento da autora. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=OwblIAp9Myk >. Acesso em: 07 maio 2020.

QUEIROZ, Sônia Maria de Melo. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.149 p.

MOPC LÍNGUÍSITCA. Kimbundo – Língua Africana de Anola Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WdABeeTsCNw&list=PLVtynsD4LmFGc97McUYUkkBwuZU8RtwzZ&index=66&t=0s>. Acesso em 07 maio 2020.

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