JOÃO LISBOA

JOÃO LISBOA, poderoso escritor

Leitura Marcelo Lima| trilha sonora: Sonata para Cordas em Ré Maior – Carlos Gomes
: III Largo

João Lisboa

Não é vulgar o caso de João Francisco Lisboa, o poderoso escritor maranhense, no nosso meio e na nossa literatura.

Êle foi, como grande número de brasileiros cultos, um autodidata. Nunca passou por escolas e academias. Delas mesmo, os que lhes saem mais eminentes, são entre nós verdadeiros autodidatas, tão pouco foi sempre, e o é ainda mais hoje, o que nelas se aprendeu. Provinciano sertanejo, fêz na província, mais talvez consigo que com mestres, a sua educação intelectual. Essa educação ou melhor instrução, nêle como em todos que a fizeram como êle, – e são a imensa maioria em nosso país – se ressente sempre de falhas e incoerências. Não tenho nenhum preconceito pelo regime acadêmico; sobretudo quando êle é, qual entre nós sucede, tão acanhado nos seus moldes, nos seus meios, no seu espírito. As escolas superiores isoladas e estreitamente profissionais como as lemos, poderão produzir bons clínicos, espertos legistas, hábeis engenheiros; não formaram jamais, por elas só, um bom espírito. Como diria um pedagogista, tal qual estamos constituídos podem ensinar mas não educar. Não há dúvida, porém, que a educação é uma obra de unidade, de método, de sistema, que não exclui por forma alguma, antes favorece, o desenvolvimento, mesmo espontâneo e livre, das faculdades. Uma tal educação salvo casos excepcionalíssimos, só pode ser realizada convenientemente em institutos animado do seu espírito, e onde a instrução seja de fato uma cultura. Não é absolutamente, hoje mais que nunca, o nosso caso, nas nossas escolas e faculdades entregues à repetição, mais ou menos bem feita, dos compêndios franceses – e à última hora italianos e, mais raro, alemães, – e que nenhum espírito filosófico anima, nem excita nenhum alto ideal humano ou social.

A instrução que se deu João Lisboa foi puramente literária, e não seria nem extensa, nem profunda; a matemática elementar e a geografia, ainda assim rudimentarmente estudadas, a nossa língua e a sua literatura, a latina, e a francesa e, menos bem, a inglêsa – e a história. Com esta pequena bagagem, que o primeiro dos nossos preparatorianos desdenharia, êle fez, entretanto, grandes coisas, relativamente à mentalidade nacional. É que êle não estudou para fazer exames senão para saber, e não tendo um certificado oficial que lhe atestasse a ciência, não parou o estudo com o recebimento do diploma.

Demais a instrução vale principalmente pelo talento que a frutifica. E o talento de João Lisboa tirou daquele pequeno cabedal enorme juro. Por muitos aspectos é, porventura, êle o mais poderoso escritor brasileiro. Como prosador é um dos mais originais, copiosos, puros e elegantes da nossa língua moderna. No Brasil pode ser apontado como clássico por excelência, sem afetações descabidas de purismo, nem o culto obsoleto do arcaísmo. Somente conhece o léxico da sua língua e por isso sem a rebusca fácil dos dicionários, é ela mais rica do que costuma ser nos nossos escritores. Como historiador, sua obra curta e fragmentária, é, todavia, bastante para assentarmos que nenhum outro escritor do gênero no Brasil teria como êle pôsto ao serviço da nossa ária ou aridificada história um talento mais compreensivo, maior seriedade de estudo, imaginação mais poderosa, espírito mais conceituoso, e mais as qualidades literárias e artísticas da sua língua e do seu estilo, que tanto pautaram ao ilustre, inestimável, mas pesado e enfadonho Varnhagen. O seu estudo sôbre a revolta do Bequimão, onde tôdas aquelas suas capacidades e qualidades se reúnem e apuram, é uma das nossas melhores monografias históricas, e A vida do Padre Antônio Vieira, não obstante inacabada e sem o último polimento, uma das mais bem feitas biografias da nossa língua. Com a última demão do escritor e menos preconceitos liberais que às vezes empanam o juízo do historiador, poderiam fàcilmente ter sido o livro definitivo, que ainda espera o grande jesuíta. A obra, porém, mais original, a mais nova ao menos – e refiro-me sempre à nossa literatura – de João Lisboa é o seu Jornal de Timon, na parte relativa à política e eleições, especialmente na porção dela, a mais considerável, sôbre partidos e eleições no Maranhão.

(Estudos de Literatura Brasileira, 2ª série, 1901 a 1907)

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Estudo crítico sobre a crítica de Machado de Assis, por José Aderaldo Castello

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Ideal do Crítico, de joaquim maria machado de assis

Leitura dramática: Marcelo Lima | trilhas em sonoplastia: Carlos Gomes (Alvorada) e Alberto Nepomuceno (Adágio para cordas e Batuque).

Coleção nossos clássicos. Publicados sob direção de Alceu Amoroso Lima e Roberto Alvim Corrêa. Nº 38. Organizado por José Aderaldo Castello. 1959.

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