
Rudimentos ferrorama
lopes al’ cançado rocha, o Cristiano
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certeira no comportamento
máquina essa
no tom tamanho e traço
correta em organização de fila
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coisa gigantesca essa
suga vomita dança equilibra
trazendo bonecos adolescentes
em sua empoeirada crista
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ente absoluta essa
centopéia da vila de pedras
por entre morros ziguezagueia
e vem repetindo preces
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essa conjunto de gomos
a vagar em escada deitada
longa escada de estações
e patas doces calçadas a tênis
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piolho de cobra sem pés
a carregar gravatas e capacetes
paralela ao rio que ainda desce
com peixes banhados de caliça
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potente mortífera e metálica
o rio surpreendentemente vivo
escorregando desgovernado
selestrepe e desaba
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solitária engomada
sob o arco de fogo
fraco leão de circo
domado pelo pescoço
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lingüiça amarra-cachorro
prontíssima para partir
sempre prestes a chegar
leva pessoas e cargas
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que sujam almas e dinheiro
jactante tal qual esperma
a centopéia sem pernas
ou então de rodas cobertas
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máquina de bocas destras
lábios frondosos de choque
andamento de um andante
timbres típicos do rock
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passam-na para a música
na foto sua luz é rouca
estática nesta última
dinâmica naquel’ outra
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tão exposta e sem arranhão
corpo absoluto e perfurador
lábios prontos para o baque
conforme delega seu interior
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enfia-se por vários túneis
os quais a regurgitam
rasga o horizonte pela raiz
esse enorme colar de tonéis
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vem vindo cuspindo em tudo
“nem que taque nem que taque”
Diz essa tal máquina essa
ao infante com pedras em punho
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serpente há tempos aleijada
nem asas nem proa nem hélices
engolidora de diversas gentes
tolôsco quilométrico de fezes
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encurva enverga taquara
de barriga para cima espelhada
num leito de pedras e cascalhos
navega tranqüila e deitada
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orquestra de ranger de rodas
repete tempo e percurso
o das onze e o das sete horas
os mais conhecidos números
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máquina decisiva e dúbia
caminho em formato de y
trechos em obras e concluídos
previsível em cada curva
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segundo normas do império
suporta toneladas por eixo
otimizada na tração
na performance e potência
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saudades de seu chocalho
o apito aviso antigo
sempre foi bem vindo
o quinhão dos assalariados
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plantadora de cidades
rastejando quem diria?
trouxe pagamentos
pensões e aposentadorias
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todos que a esperaram
relembraram a revelação
“era aquilo mesmo?
era mesmo aquilo?”
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sua porção então acidentada
aos cuidados do tecnólogo
e aos olhos aqui do poeta
está sua parte imaginária
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máquina geralmente grávida
de grãos bobinas e barras
em gestação meio inversa
com bolsas e berços de aço
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reduzida em custos desgastes
diária preventiva e rodante
suplementada de componentes
baba demanda e disponibilidade
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fizeram-na uma estrela pop
ei-la numa foto estampada
duma revista especializada
revestida nua ou desmontada
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rotulada datada e batizada
com nomes de mulheres rodadas
e pioneiras agora respeitadas
carmens mirandas embananadas
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vassoura sem cabo e vertical
sulcando a poeira do sertão
fazendo-me construir estrofes
como se cada fosse um vagão
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as sandálias vistas do alto
parece um enorme verso
repetitivo visual e bobo
com única palavra: progresso.
fotografia: fábio almeida [2012].
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